A gente é pobre porque gasta muito ou porque ganha pouco?
Num boteco de São Paulo, a TV ligada trazia um consultor de economia dando dicas para resolver o atoleiro das dívidas. Em torno do aparelho, formou-se uma rodinha. Enquanto isso, um senhor curtido pela idade, trajando boné de um antigo candidato que, hoje, faz campanha em outro plano espiritual, assumiu o papel de comentarista, mumunhando entre os dentes…
"Verifique a possibilidade de novas linhas de crédito."
Se o gerente aceitar me dar mais um empréstimo, é um idiota.
"Depois verifique a possibilidade de vender bens."
Geladeira é velha, o fogão é velho, o sofá é velho. Se vender a TV, não posso assistir o que você tá falando.
"Não conseguindo, cheque com os parentes."
O meu cunhado nem visita mais a gente por conta do dinheiro que peguei dele e não paguei. Com que cara vou pedir outro? Se ele aceitar, é um idiota como o gerente.
"Empréstimo tendo o 13o como garantia é uma saída."
Primeiro, um emprego que tenha 13o seria bom.
Um outro homem, de bigode desbotado, se vira para ele e reclama do mau humor do colega, que prontamente retruca.
Eu sei que o homem tá com boa vontade, mas essas dicas não servem pra nós, não. Aqui o problema não é que a gente gasta demais. É que ganha de menos. Aí, não tem jeito.
E depois de um longo gole de média e de afastar o gato malhado que procurava algo que despencasse do balcão, desabafa:
Quero é alguém que explique se dívida passa de pai pra filho quando o pai morre. Se não passar, já tá bom demais.
Não é que o jornalismo da TV era desconectado da realidade. A realidade é que é maior, muito maior, que o jornalismo.
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