Topo

Leonardo Sakamoto

Cinco dicas para não ser visto como um babaca neste Carnaval

Leonardo Sakamoto

14/02/2015 17h07

1) Caso tenha faltado às aulas de língua portuguesa na escola, compreenda que o real, objetivo, profundo e simples significado da palavra "não" é "não". "Não" não significa "talvez", muito menos "quem sabe" ou ainda "insiste que pode rolar". Um "não" não te diminui como pessoa, faz parte da vida. Mas deixar de aceitá-lo, faz de você um idiota.

2) As frases "Onde você acha que vai vestida assim?", "A culpa não é minha, olha como você tá vestida!", "Se saiu de casa assim, é porque está pedindo", "Mas é carnaval, vadia! Quem está aqui sozinha é porque quer isso" e "Me dá um beijo que eu te solto" não devem passar nem perto da boca de maridos, pais, irmãos, filhos, netos, namorados, amigos e outros barbados. Ou de outras mulheres.

3) Mulheres, em nenhuma hipótese, devem ser chamadas de "prostitutas" e "vadias" como xingamento genérico para qualquer comportamento em desacordo com seus planos de "conquista". E as prostitutas serão tratadas com o mesmo respeito despendido a qualquer outra trabalhadora.

4) Não segure mulheres pelos cabelos, braços, pescoço, cintura ou qualquer outra parte do corpo a menos que ela tenha lhe dado autorização para tanto. Na dúvida se a autorização foi expressa, não faça nada. Na dúvida se é capaz de interpretar corretamente uma autorização, não faça nada. E na dúvida se consegue controlar seus instintos bizarros, não saia de casa.

5) O que alguns chamam de "brincadeira de carnaval" pode se configurar como assédio ou violência sexuais. Sim, uma "molecagem" pode levar você a responder legalmente por isso. Então, trate as mulheres, cis e trans, que estão na folia com respeito. Elas não são prêmios de gincana ou carne em açougue.

E se seus amigos te chamarem de "frouxo" caso você siga essas dicas, ria da cara deles. "Frouxo" seria se você precisasse seguir a opinião deles para ser feliz.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.