Para evitar corrupção com a Rio-2016, bairros ricos serão ocupados
Pouca gente reclamou quando a imprensa tratou do plano de ocupação de favelas cariocas para "garantir a tranquilidade" durante os Jogos Olímpicos de 2016.
Exército e fuzileiros planejam ocupar quatro favelas durante a Rio-2016
Foi o título de uma boa matéria da Folha de S.Paulo sobre o tema.
Acho um absurdo a forma como são feitas essas ocupações, nas quais direitos fundamentais são tratorados sob a justificativa de "garantir a tranquilidade" a um grande evento esportivo. Como se um bairro inteiro constituído de meliantes. Isso quando o próprio bairro não é removido em nome da especulação imobiliária, ops, das Olimpíadas.
Pergunto-me, contudo, qual seria o comportamento das mesmas pessoas caso a notícia fosse essa:
Exército e fuzileiros planejam ocupar bairros ricos antes da Rio-2016
O anúncio causaria comoção não apenas nos moradores desses bairros como também em muitas pessoas críticas à última ignóbil ditadura militar.
O exército ocupando favelas tornou-se tão corriqueiro quanto o fechamento do Minhocão, em São Paulo, e de uma pista da avenida Atlântica, no Rio de Janeiro, aos domingos, para o lazer. Afinal, antes a pimenta nos olhos dos outros do que nos meus.
Adotamos o pressuposto de que favelas são um risco porque nelas estão alguns indivíduos ou organizações envolvidas em violência armada organizada. Dane-se a maioria pacífica. Agimos preventivamente para evitar o pior.
Por essa lógica, então, também podemos considerar que a presença do exército em bairros ricos de São Paulo, Rio, Salvador e Brasília, entre outros lugares, onde moram empresários, banqueiros e políticos que vão lucrar com superfaturamentos e maracutais relativas à construção e realização dos jogos, poderia ser usada para evitar o desvio de bilhões dos cofres públicos. Pois dane-se a maioria honesta. Agimos preventivamente para evitar o pior.
Dessa forma, a gente democratiza o absurdo.
Parte das próprias Forças Armadas não querem ocupar comunidades pobres, pois sabe que elas serão apontadas como responsáveis se houver problemas. E tendo em vista algumas das desastrosas ações durante a Copa do Mundo, podemos considerar que elas têm razão.
Forças Armadas são formadas para a guerra. Em última instância, militares são treinados para matar. E, até onde eu saiba, em uma democracia, eles não estão em guerra com seu próprio povo. Em tese, é claro.
Parte da população e dos governantes apoia esse tipo de ação. Gosta de se enganar e acha que estará mais segura com o Estado agindo "em guerra" contra a violência – como se isso não fosse, em si, um contrasenso.
Mas parafraseando o Capitão Nascimento: bota na conta dos jogos. E bora desviar a atenção de onde estão os verdadeiros problemas relacionados à Copa e às Olimpíadas.
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