Topo

Leonardo Sakamoto

Dica para não passar vergonha na internet e, ainda por cima, ter saúde

Leonardo Sakamoto

27/06/2015 17h20

Estou ressuscitando uma ideia, tendo em vista que (apesar de lampejos de esperança) o mundo segue triunfante para algum lugar um tanto quanto sinistro…

Você pensou em algo "genial" sobre a vida dos outros e quer postar imediatamente nas redes sociais.

Pare. Encha bem o pulmão de ar e solte lentamente.

Repita a operação mais duas vezes.

Depois, pense: O que estou prestes a postar configura algum crime virtual, promove o ódio ou pode ser ocasionado por minha incapacidade de exercer as faculdades relacionadas à interpretação de texto?

Sim? Então, tome um copo d'água e vá fazer exercícios físicos.

Se não, pense: O que estou prestes a postar é realmente necessário e acrescenta algo ao debate?

Não? Então, tome um copo d'água e vá fazer exercícios físicos.

Se sim, pense: O que estou prestes a postar serve apenas para eu me sentir aquecido e amado através dos "likes" dos meus amigos?

Sim? Então, tome um copo d'água e vá fazer exercícios físicos.

Se não, pense: O que estou prestes a postar possui um argumento baseado em fatos reais ou, ao menos, em alguma lógica?

Não? Então, tome um copo d'água e vá fazer exercícios físicos.

Se sim, pense: O que estou prestes a postar é machista ou regado por preconceitos de gênero, orientação sexual, cor de pele, origem social ou etnia?

Sim? Então, tome um copo d'água e vá fazer exercícios físicos.

Se não, pense: O que estou prestes a postar poderia ser dito de forma mais educada, sem xingamentos gratuitos, mesmo que outras pessoas estejam xingando gratuitamente no debate?

Não? Então, tome um copo d'água e vá fazer exercícios físicos.

Se sim, reformule a postagem em outros termos e pense: Eu teria coragem de dizer o que estou prestes a postar para um auditório lotado com 500 pessoas desconhecidas ao vivo?

Não? Então, tome um copo d'água e vá fazer exercícios físicos.

Se sim, poste e seja feliz.

Ao final, você estará contribuindo para um mundo mais digno. E terá um condicionamento físico muito melhor #saradão

O único problema da técnica é que, se aplicada corretamente em São Paulo, pode secar o reservatório da Cantareira antes da hora.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.