Grécia e Brasil: promessas dolorosas e estelionato eleitoral
Pode-se discordar da forma com a qual o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras e seu partido, o Syriza, estão conduzindo a negociação com credores internacionais. Afinal, dependendo do impacto do resultado do plebiscito deste domingo, que disse "não" para os acordos que afundam a qualidade de vida da população grega, ele pode significar a saída da zona do euro.
Quase 40% da população grega discordou. E, mesmo assim, não saiu distribuindo sopapos com os mais de 60% contrários aos acordos. E, segundo as informações divulgadas até agora, não está promovendo o ódio nas redes sociais, como acontece por aqui.
Mas o Syriza (Synaspismós Rizospastikís Aristerás, ou Coligação da Esquerda Radical) não mentiu ou omitiu. Disse em sua campanha que iria contra os acordos leoninos que haviam sido assinados pelo governo anterior. E foi eleito com essa plataforma. Ou seja, não pode ser acusado de estelionato eleitoral.
É claro que a economia grega é minúscula comparada à brasileira, o Brasil é muito mais complexo socialmente do que Grécia e, com o "não" eles podem passar por um período sombrio de dificuldades e dúvidas.
Mas o efeito de comparação com as promessas eleitorais de Dilma é automático. Durante sua campanha à reeleição, ela garantiu a manutenção de direitos trabalhistas e previdenciários e criticou duramente seus adversários por conta de soluções neoliberais coordenadas por banqueiros que seriam implantadas caso vencessem. Depois de eleita, esqueceu o que havia prometido e preferiu governar com a banca e não com a rua.
É emblemático, portanto, que mais de 60% da população tenha dado um voto de confiança ao Syriza. E, por aqui, a popularidade do Planalto desceu a um dígito.
Durante muito tempo, a esquerda latino-americana encheu a boca para falar que os olhos do mundo estavam voltadas para ela, pois suas políticas poderiam servir de inspiração. Agora, os olhos da esquerda estão no Syriza, na Grécia, e no Podemos, na Espanha, frutos da insatisfação, da renovação e das manifestações sociais na Europa.
Analistas apontam que os votos dos mais jovens, que sofrem com o desemprego diante das políticas de austeridade no continente, foram fundamentais neste plebiscito. Da mesma forma que serão nas eleições de 2018 no Brasil – os ultraconservadores já perceberam isso e estão em plena campanha por corações e mentes, mas a esquerda não muito bem.
Que a experiência do Syriza ajude a mostrar caminhos para a transformação social no século 21 – com nova cara e novas reflexões. Inspirando o lado de cá do Atlântico a criar uma nova esquerda, que não seja contaminada pelos erros do passado, mas volte a se lembrar da razão de sua existência.
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