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Leonardo Sakamoto

Com as tripas do último Mickey, enforcaremos o último Muppet

Leonardo Sakamoto

07/07/2015 15h54

De um lado, gente que realmente está se mexendo para derrubar o governo federal. De outro, gente que vê indícios de golpe em tudo, até em rolo de papel higiênico.

Estão todos errados. Estamos, na verdade, em meio a um golpe comunista no país. Leiam a verdade:

O corte em direitos trabalhistas e previdenciários em nome do ajuste fiscal, bem como o ataque à dignidade dos povos tradicionais, em nome de uma visão distorcida de desenvolvimento, levados a cabo pelo governo do PT no Brasil, são apenas distração para turvar os reais planos de um grupo maior e secreto: a implantação do comunismo em todo o continente americano.

O plano tem sido tão bem feito que ninguém percebeu que Levy (codinome: Grande Vara) é nosso. O ministro da Fazenda vai aplicar golpes na recuada CLT a fim de ganhar a confiança do mercado. Depois, lastreará a economia com rublos, pesos cubanos, wons norte-coreanos, bolívares venezuelanos e, claro, a pa'anga, da ilha de Tonga.

Enquanto isso, o companheiro Eduardo Cunha está lançando algumas polêmicas para a mídia se distrair. Ao final do seu mandato, contudo, entrará com a proposta de emenda constitucional que acaba com a propriedade privada no Brasil.

Os companheiros da Brigada Mikhail Bakunin, que foram eleitos sob o disfarce de "Bancada Evangélica", estão ansiosos tanto para votarem a PEC quanto para poder parar de falar mal de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis.

O companheiro Beto Richa cumpriu o combinado e, através da identidade reativa à violência estatal, conseguiu organizar e mobilizar os professores e servidores públicos no Estado do Paraná. Os comitês revolucionários dos estados devem ser orientados a copiar o modelo desenvolvido pelo companheiro Beto e aplicar a mesma fórmula com o intuito de acordar as massas.

O companheiro Geraldo teve sucesso com a parte do plano que previa secar a capital paulista. Toda a água está, agora, escondida em uma rede de cavernas abaixo do sistema Cantareira sem que ninguém ao menos desconfie. Provavelmente em setembro, as torneiras de mais da metade da cidade já estarão secas, o que levará ao êxodo em massa da elite para seus haras ou para hotéis na região da Berrini/Morumbi, abastecidos pelo sistema Gurapiranga. Nesse momento, Jardins, Higienópolis, Pacaembu, Perdizes e adjacências serão ocupados pelos companheiros do movimento sem-teto, por clínicas de médicos cubanos e pelos argelinos treinados pelo camarada "Libanês", que foi prefeito e governador de São Paulo.

Por fim, Dilma foi sedada por um grupo avançado que invadiu o Palácio do Alvorada e levada para um local secreto, onde ficará sob custódia. Em seu lugar foi colocada a "Moça", que após cirurgias plásticas em Pequim e intenso treinamento, tornou-se uma cópia perfeita, porém "de luta". Como ela estava acima do peso da mandatária (que, de uma hora para a outra, resolveu fazer a dieta Ravena), tiveram que proibir aparições públicas da "Moça" por algumas semanas, até que ela perdesse massa corpórea.

A "Moça" está instruída a manter a política entreguista de Dilma por mais seis meses. É prazo mais do que suficiente para que o carregamento de armas norte-coreanas do companheiro Kim Jong-un chegue ao porto de Santos, escoltadas por mariners do camarada Obama.

Com as tripas do último Mickey, enforcaremos o último Muppet. Vai ser duro, porque gosto de Muppets. Mas sacrifícios são necessários.

(Observação 1: Texto ficcional para rir um pouco desse clima violento e terrível em que vivemos. O aviso é necessário. Na última vez, um pastor fez um vídeo se utilizando da minha "denúncia": de que há uma central de inteligência dos Illuminati cravada 15 andares abaixo do Templo de Salomão, em São Paulo.)

(Observação 2: Há porcarias semelhantes circulando em grupos de WhatsApp, fazendo a cabeça de milhões de pessoas que são incapazes de discernir ficção e realidade. A educação falhou nesse país. Vem, meteoro, vem.)

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.