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Leonardo Sakamoto

Sete mentiras que te contam para você amar cegamente seu país

Leonardo Sakamoto

27/08/2015 11h49

Muito cuidado com lugares-comuns feitos para ajudar a forjar ou fortalecer o "amor à pátria", mostrando que somos iguais (sic) e filhos e filhas da mesma pátria (sic sic). Aceitar isso de forma acrítica é ignorar que a maioria é tratada como um bando de renegados, sem direito a nada além de gerar riqueza – para outros. Vamos a alguns deles:

1) A letra do hino nacional brasileiro não é uma das mais bonitas do mundo, ao contrário do que afirmam correntes que circulam na rede. Até porque é impossível mensurar tal coisa. Mas ainda temos tristes índices de iletramento.

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2) Também é mito que a bandeira nacional (cujo verde não surgiu para representar "nossas matas", mas sim a casa imperial de Bragança) é considerada uma das mais belas. Mas somos reconhecidos pelas altas taxas de desmatamento.

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3) O povo brasileiro não é, necessariamente, o mais alegre do planeta. Mas é um dos campeões de desigualdade social e de concentração de renda.

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4) A democracia racial, apesar de alardeada como exemplo planetário, não existe e, por isso, não nos define. O que nos explica são séculos de escravismo e suas heranças.

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5) O Brasil não é o país que tem a mulher mais bonita do mundo. Até porque esse país não existe. Mas somos um país reconhecidamente machista.

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6) Nossa comida não foi eleita a mais gostosa e saudável. Mas estamos entre os campeões globais de uso de agrotóxicos.

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7) Não está escrito em lugar algum que teremos um futuro grandioso pela frente. E se continuarmos maltratando o meio ambiente em nome do consumismo desenfreado, talvez nem tenhamos um futuro.

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O melhor de tudo é que quando levantamos indagações sobre quem somos e ao que servimos e conclamar ao espírito crítico, somos acusados de não amar o país, no melhor estilo "Brasil: ame-o ou deixe-o" dos tempos de chumbo da ditadura civil-militar.

Pois, para muitos, brasileiro bom é brasileiro que sabe o seu lugar. E aceita de forma bovina.

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Orgulho de ser brasileiro. Mas nem sempre.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.