Não tenha medo de usar as palavras certas: machista, racista, homofóbico...
Muitas empresas não dizem mais que "demitiram" 1.300 empregados. Falam que "descontinuaram os contratos" ou "interromperam o relacionamento" com os empregados. Ops, desculpe. Isso também mudou de nome: "colaboradores".
Um amigo da área de RH de uma multinacional disse que não sabia onde enfiar a cara quando chamou um homem muito, muito simples para informar que ele seria descontinuado. "O senhorzinho não entendia nem por um decreto que estava sendo demitido", diz ele – que teve que apelar para o método antigo, quando foi claramente compreendido.
Os "jênios" que inventaram isso para facilitar a vida das empresas esqueceram que não adianta flambar merda com azeite trufado e polvilhar com sal retirado do deserto de Gobi e especiarias do Rajastão. No final, vai continua sendo merda.
Em outras palavras, seguirá sendo um "pé na bunda", uma "degola", um "chute no traseiro" e tantos outros sinônimos populares criados para explicar uma demissão.
Enfim, é natural que a língua evolua. Mas algumas coisas deveriam continuar sendo chamadas pelo que realmente são.
Uma porrada no rosto da namorada não é "desentendimento de casal".
Um espancamento de uma criança pelos adultos responsáveis não é "corretivo".
Uma tentativa de estupro ou de violência sexual não é "forçar a barra".
Da mesma forma que a pessoa que defende que brancos tenham mais direitos efetivados que negros e indígenas, que homens devem mandar e mulheres, obedecer, que ricos precisam ser mais protegidos do que pobres, que ciclistas são comunistas e devem ser combatidos, que mulher que aborta deve ir presa e que casamento homoafetivo deveria ser proibido, não está "exercendo simplesmente seu direito à liberdade de expressão".
Essa pessoa está simplesmente sendo ridícula.
Isso tem cura, claro. Passa por conscientização e carinho.
Mas, até lá, vai continuar sendo ridícula.
E, para que entenda que está sendo ridícula, vale – com muita educação – chamar suas atitudes pelo nome correto. Machista, racista, homofóbica, preconceituosa…
Pois, palavras têm o poder que conferimos a elas. E violência, na verdade, é manter o silêncio diante da injustiça.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.