O governo de São Paulo resolveu trocar a lousa pela bomba de gás?
Ao perceber que lançar bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e spray de pimenta em adultos já não faz o mesmo efeito em manifestações de rua, o governo de São Paulo resolveu – baseado nas mais recentes metodologias educacionais – antecipar o processo de "educação para a cidadania".
Por isso, a polícia militar está usando o mesmo armamento em atos com crianças e adolescentes que – em protesto contra o projeto que prevê o fechamento de escolas e a realocação forçada de alunos – estão ocupando ruas e unidades de ensino. Ou seja, ao contrário do que muita gente pensa, não é uma ação truculenta do governo. Pelo contrário: o uso de bombas é mais uma etapa do planejamento da Secretaria de Educação para economizar dinheiro público.
Primeiro, veio o anúncio do fechamento de escolas para reorganizar o sistema e, quiçá, terceirizar sua gestão no futuro.
Agora, inicia-se o condicionamento dos cidadãos, desde a mais tenra idade, para que temam seu governo ao invés de respeitá-lo. Isso vai gerar imensa economia futura na renovação dos estoques de bombas de fragmentação, gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha. Isso sem contar, as possibilidades de lucros ao ter uma população que diga "sim" para tudo e encare o mundo de forma bovina – com todo o respeito aos bois e vacas, claro.
Afinal de contas, um adolescente que fique intoxicado com gás hoje, tossindo e vomitando os bofes, vai pensar duas vezes antes de ser um "subversivo" amanhã. Vai ser um bom cidadão, aceitando as políticas e comprando produtos com um sorriso no rosto.
As bombas que voam hoje nos céus paulistanos garantem que este adolescente aprenderá várias lições preciosas:
Ir para a rua protestar é crime. Exigir educação de qualidade é crime. Querer participar das decisões sobre políticas públicas é crime. Questionar seu governo é crime. Gravar ações policiais em manifestações com o celular é crime. Não conhecer e respeitar o seu lugar na sociedade é crime. Pedir diálogo real (e não o simulacro oferecido pelo governo, que não aceita discutir seu projeto) é crime. Achar que educação, mais do que repetir palavras, é estar pronto para colocar em xeque a estrutura do próprio país é crime.
E, se aprender essas lições com cuidado e sabedoria, poderá passar para o próximo ciclo e compreender que ser pobre, negro e periférico também é crime por aqui.
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