O governo de São Paulo resolveu trocar a lousa pela bomba de gás?
Ao perceber que lançar bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e spray de pimenta em adultos já não faz o mesmo efeito em manifestações de rua, o governo de São Paulo resolveu – baseado nas mais recentes metodologias educacionais – antecipar o processo de "educação para a cidadania".
Por isso, a polícia militar está usando o mesmo armamento em atos com crianças e adolescentes que – em protesto contra o projeto que prevê o fechamento de escolas e a realocação forçada de alunos – estão ocupando ruas e unidades de ensino. Ou seja, ao contrário do que muita gente pensa, não é uma ação truculenta do governo. Pelo contrário: o uso de bombas é mais uma etapa do planejamento da Secretaria de Educação para economizar dinheiro público.

Policial lança bomba de gás contra estudantes que protestavam, nesta quinta (3), na região central de em São Paulo (Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo)
Primeiro, veio o anúncio do fechamento de escolas para reorganizar o sistema e, quiçá, terceirizar sua gestão no futuro.
Agora, inicia-se o condicionamento dos cidadãos, desde a mais tenra idade, para que temam seu governo ao invés de respeitá-lo. Isso vai gerar imensa economia futura na renovação dos estoques de bombas de fragmentação, gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha. Isso sem contar, as possibilidades de lucros ao ter uma população que diga "sim" para tudo e encare o mundo de forma bovina – com todo o respeito aos bois e vacas, claro.
Afinal de contas, um adolescente que fique intoxicado com gás hoje, tossindo e vomitando os bofes, vai pensar duas vezes antes de ser um "subversivo" amanhã. Vai ser um bom cidadão, aceitando as políticas e comprando produtos com um sorriso no rosto.
As bombas que voam hoje nos céus paulistanos garantem que este adolescente aprenderá várias lições preciosas:
Ir para a rua protestar é crime. Exigir educação de qualidade é crime. Querer participar das decisões sobre políticas públicas é crime. Questionar seu governo é crime. Gravar ações policiais em manifestações com o celular é crime. Não conhecer e respeitar o seu lugar na sociedade é crime. Pedir diálogo real (e não o simulacro oferecido pelo governo, que não aceita discutir seu projeto) é crime. Achar que educação, mais do que repetir palavras, é estar pronto para colocar em xeque a estrutura do próprio país é crime.
E, se aprender essas lições com cuidado e sabedoria, poderá passar para o próximo ciclo e compreender que ser pobre, negro e periférico também é crime por aqui.
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