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Leonardo Sakamoto

Para a PM, jornalista em protesto é como pato em parque de diversão

Leonardo Sakamoto

23/01/2016 10h48

Jornalistas foram novamente agredidos pela Polícia Militar do Estado de São Paulo durante o último protesto contra o aumento de tarifas do transporte público. Com os sete da noite de quinta (21), subiu para 21 o total de vítimas – 17 agredidos e quatro constrangidos durante o seu trabalho de cobertura das manifestações deste ano. Os números são da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Isso é uma vergonha.

Afinal o poder público paulista, responsável por chacinas de moradores da periferia e massacres de presos em penitenciárias, que já torturou profissional de imprensa durante a ditadura, não poderia ostentar número tão baixos de repressão à imprensa.

Cadê as tradições deste estado que tem o orgulho de ver nos bandeirantes caçadores de índios seus heróis fundadores? Cadê o sangue da imprensa para lavar nossa democracia?

Então, bora facilitar o trabalho da PM no próximo protesto! Sei que muitos camaradas policiais acham um absurdo ter que bater em jovens que poderiam ser – ou são mesmo – seus filhos ou em profissionais de imprensa que estão lá trabalhando.  Então, para dar uma forcinha no cumprimento de suas ordens, este blog sugere produzir camisetas para os colegas jornalistas se vestirem nos próximos atos.

Assim, com todos identificados, não fica nenhum sem tomar porrada. Afinal, aqueles coletinhos sem-vergonha distribuídos pelo poder público para diferenciar jornalistas não cumpre seu papel de mostrar quem é alvo.

camiseta1

A Abraji, em sua última nota pública, afirma que "o papel das forças de segurança é proteger cidadãos e garantir o direito de a imprensa trabalhar. Agressões de policiais contra jornalistas durante o exercício de suas atividades são características de contextos autoritários e inaceitáveis em regime democrático".

Nem estou entrando no mérito das reivindicações do movimento. Tão intolerável quanto um manifestante levar cacetada covardemente sem ter feito absolutamente nada para colocar em risco a vida de outras pessoas (se as milhares de pessoas pacíficas resolvessem adotar a tática black bloc, São Paulo entraria em convulsão), é um jornalista ser agredido com cassetete, bombas, balas de borracha, empurrões e maus tratos quanto está tentando registrar e transmitir uma história. Seja ele da mídia tradicional ou alternativa. Pois, isso impede que a população saiba exatamente o que está se passando para formar sua opinião.

Como já disse aqui, é a censura perpetrada através de violência de Estado.

 

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.