Sem-teto pressionam e governo Temer recua do recuo
Após militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocuparem o saguão do prédio do escritório da Presidência da República, nesta quarta (1), na avenida Paulista, em São Paulo, o Ministério das Cidades anunciou que voltará a contratar unidades habitacionais pelo Programa Minha Casa, Minha Vida Entidades.
O governo do presidente interino revoga dessa forma, a decisão que ele próprio havia revogado anteriormente ao desautorizar a contratação de 11.250 residências.
Claro que a administração Michel Temer disse que a mudança já estava decidida antes, independentemente da manifestação. O que foi confirmado prontamente pelo Coelho da Páscoa, por Papai Noel e, é claro, por Tyrion Lannister.
No Minha Casa, Minha Vida Entidades, os movimentos sociais ligados à habitação recebem os recursos e cuidam da construção dos imóveis. Defendem quem conseguem produzir mais e melhor unidades em comparação com as empreiteiras.
A Polícia Militar soltou bombas de som e de estilhaços ("efeito moral" sangra…) e gás de pimenta e distribuiu borrachada. Uma resposta equilibrada e condizente, que se espera de uma corporação treinada para lidar com manifestações, a um rojão que foi disparado para o alto por uma pessoa no protesto. Manifestantes, que saíram machucados, fizeram exame de corpo de delito, segundo o movimento.
"Quando o povo se organiza e vai à luta, os governos são obrigados a recuar no ataque aos direitos sociais. Principalmente um governo sem legitimidade política como esse." De acordo com Guilherme Boulos, coordenador do MTST, o que ocorreu nessa mobilização é uma amostra do poder que tem a organização e a luta popular. "Tratar demanda social com cassetete e com bomba só joga lenha na fogueira."
Resistência significa utilizar os meios possíveis e ao alcance de cada um para demonstrar sua insatisfação e defender os seus direitos. Empresários resistem gastando dinheiro em suas causas, travando rodovias com tratores e caminhões e inflando patos. Governo e oposição, usando a máquina pública e a paralisação do país em proveito próprio. Tudo isso é visto como sinais de uma república saudável.
Mas quando mulheres, estudantes, trabalhadores, movimentos sociais, populações tradicionais, intelectuais e artistas prometem resistência, cruzando os braços em greves e ocupando ruas, avenidas e outros espaços, demandando direitos ou defendendo a democracia, a ação vira caso de polícia.
Se houve melhora na maneira como esse país trata os mais humildes, isso se deve à sua resistência, ou seja, sua mobilização, pressão e luta e não a bondades de supostos iluminados ou da esmola das classes mais abastadas.
Como já disse aqui antes, São Paulo não são apenas os edifícios frios da avenida Paulista.
São Paulo também é um rapaz que nasce, negro e pobre, no extremo da periferia e, apesar de todas as probabilidades contrárias, chega à fase adulta. É a vendedora ambulante que sai de casa às 4h30 todos os dias e só volta tarde da noite, mas ainda arranja tempo para ser pai e mãe. Todos eles sem ter um teto decente onde morar.
Quando essa periferia ocupa essa avenida Paulista, aí sim, temos uma São Paulo completa – com suas tripas expostas, suas contradições escancaradas e suas demandas postas à mesa após desidratada toda a paciência.
Talvez seja essa razão de tanto medo de quem mora do lado de dentro do castelo.
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