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Leonardo Sakamoto

Ministro do Trabalho confirma: Temer é comunista, Temer é dos nossos

Leonardo Sakamoto

08/09/2016 21h49

Atenção: Texto com altas doses de ironia. Interprete com moderação.

Se for verdade o que o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, afirmou, nesta quinta (8), que a jornada será limitada a 44 horas com apenas mais quatro horas extras por semana, como muitos veículos de comunicação divulgaram, significará – na prática – uma redução. Coisa que nem um partido que se afirma trabalhista e outro que se afirma social-democrata conseguiram em suas presidências.

Explico: para uma jornada de 44 horas (normalmente, oito horas por dia de segunda a sexta e mais quatro, no sábado), que já é o limite semanal hoje, são permitidas até duas horas extras por dia, totalizando 56 horas. Claro que essas horas extras não podem ser frequentes dessa forma, caso contrário o empregador terá problemas com auditores fiscais e procuradores do trabalho. E, normalmente, são frutos de acordo coletivo. Mas esse é o limite teórico – lembrando que paga-se 50% a mais de remuneração por hora extra.

Portanto, o que o governo federal está propondo é uma redução de jornada para muitas categorias (que, na prática, hoje trabalham mais do que 48 horas) e tornando nulas as convenções coletivas que permitem as prorrogações de jornada acima disso. Jornalistas do mundo, uni-vos!

Se Michel Temer fizer isso SEM REDUZIR SALÁRIOS, significará um pesado golpe em parte dos empresariado que o apoiou para que chegasse à Presidência, sonhando com mudanças legais que prometeriam o contrário. Patos amarelos? Não, aqui é foice e martelo, camarada!

Mesmo o limite de 12 horas diárias que ele propôs não seria um grande problema porque, limitando a jornada a 44 horas semanais mais quatro horas extras, só poderá haver um dia da semana com essa dúzia de horas. Matemática simples. E, ainda por cima, pagando quatro horas de remuneração 50% maior. Se o governo cumprir o que promete, de fiscalizar para que pessoas com mais de um emprego não ultrapassem a jornada legal mais horas extras somando os empregos, então é isso mesmo.

Por isso, acho que Temer me enganou desde o começo.

Temer é comunista. Temer é dos nossos.

PS: Outra possibilidade é o ministro ter falado besteira ou todos os repórteres terem registrado errado.

Ou ainda haver algo que não foi dito… Sobre essa hipótese, gostaria de ver o projeto que dizem estar tramitando não no Ministério do Trabalho, mas na Casa Civil…

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.