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Leonardo Sakamoto

Michel Temer, Carlos Magno, Távola Redonda e o golpe comunista em curso

Leonardo Sakamoto

11/09/2016 20h31

Em entrevista ao jornal O Globo, Michel Temer disse que, quando despacha em sua mesa e ela tem todos os assentos ocupados, sente-se como o imperador Carlos Magno.

"Eu me sinto aqui como Carlos Magno. Quando eu tinha 11 anos de idade, eu ganhei um livro chamado "Carlos Magno e os 12 cavaleiros da Távola Redonda" e eu li aquele livro e era assim: os 12 cavaleiros."

Para um desavisado, Michel teria apenas misturado as histórias do imperador europeu, que viveu entre os anos 742 e 814, e a Távola Redonda – lendária mesa redonda em torno da qual sentaram-se valorosos cavaleiros da corte do não menos lendário (ou fictício) rei Artur.

Rá! Michel não erra, Michel não falha, Michel é nosso. Michel, em verdade, queria passar uma mensagem, em código, para a organização da revolução comunista, que deve tomar o poder em breve em todo o mundo.

Sei que não deveria estar revelando isso abertamente. Ainda mais porque me considero alguém à esquerda. Mas meu amor à liberdade de informação é maior que qualquer simpatia à revolução. Acredito que vocês tenham o direito de saber.

Távola Redonda é o codinome do Salão Oval, onde o camarada Obama reúne os companheiros do Foro de São Paulo. Os 12, como todos sabem, são Obama, Lula, Mujica, Fidel e Raul Castro, Evo Morales, Nicolás Maduro, Cristina Kirchner, Kim Jong-un, Xi Jinping, Papa Francisco e, é claro, Keith Richards.

Tentaram transferir definitivamente a Távola para Havana, mas os colegas revolucionários reclamaram, com razão, que Obama, Francisco e Keith Richards terem ido à capital cubana encontrarem os Castro no mesmo momento, deu na cara demais.

A ideia foi de Keith, o único que jogou cartas com Marx pessoalmente e também o único que estará por aqui quando todos se forem. Então, não havia como questionar sua escolha e melodias.

O plano tem sido perfeito. Ninguém percebeu que enquanto Michel Temer (codinome: Mesóclise) está aplicando golpes na recuada CLT a fim de ganhar a confiança do mercado, o companheiro Henrique Meirelles está lastreando a economia brasileira com rublos, pesos cubanos, wons norte-coreanos, bolívares venezuelanos e, claro, a grande pa'anga, da ilha de Tonga.

Quando Michel referiu-se aos seus "11 anos de idade", queria dizer que a partir do dia 11, vulgo este domingo, os companheiros da Brigada Mikhail Bakunin, que foram eleitos sob o disfarce de "Bancada Evangélica", estão prontos para votarem a proposta de emenda constitucional que acaba com a propriedade privada no Brasil.

Fico feliz por eles, que devem estar cansados do disfarce que inclui xingar gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. Dizem que não aguentam mais defender Deus, que chamam carinhosamente de Ópio das Massas.

O companheiro Geraldo Alckmin (codinome: Chuchu) cumpriu o combinado e, através da identidade reativa à violência estatal, conseguiu organizar e mobilizar a população no Estado de São Paulo. Os comitês revolucionários dos outros estados devem ser orientados a copiar o modelo desenvolvido pelo companheiro Alckmin e aplicar a mesma fórmula com o intuito de acordar o povo.

O Foro de São Paulo está especialmente preocupado com o camarada Lula. Desde que comprou pedalinhos para o sítio em Atibaia, abraçando o pacote simbólico da burguesia brasileira, tem sistematicamente sabotado os planos revolucionários. Dizem que até assinou Netflix.

Portanto, tivemos que acelerar. Em 2014, Dilma foi sedada por um grupo avançado que invadiu o Palácio do Alvorada e levada para um local secreto, onde está sob custódia. Em seu lugar foi colocada a "Moça", que após cirurgias plásticas em Pequim e intenso treinamento, tornou-se uma cópia perfeita, mas "de luta". A "Moça" foi instruída a manter a política entreguista de Dilma até a economia ruir e a aceitar o impeachment. Enquanto isso, o companheiro Eduardo Cunha (codinome: Toblerone) avançou com um impeachment nas coxas a fim de tornar o país uma bomba-relógio.

O companheiro Michel pediu para avisar o companheiro Jair Bolsonaro (codinome 1: Carlos Marighela, codinome 2: Carlos Magno) que ele terá prazo mais do que suficiente a fim de receber o carregamento de armas norte-coreanas do companheiro Kim Jong-un no porto de Santos – graças às boas relações do camarada Michel Temer no porto, elas virão escoltadas por mariners do camarada Obama e ninguém notará.

A encenação do impeachment manteve a mídia entretida, a elite ensandecida e a população entorpercida. Mal sabem eles.

Com as tripas do último Mickey, enforcaremos o último Muppet. Vai ser duro, porque gosto de Muppets. Mas sacrifícios são necessários.

E vocês ainda acham que foi um erro de Michel? Tolos.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.