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Leonardo Sakamoto

O Brasil no Livro dos Recordes: A maior passada de mão na bunda da história

Leonardo Sakamoto

14/12/2016 11h19

O combate à corrupção deve continuar por razões que até um guaxinim gripado saberia explicar.

Mas como vários dos atores denunciados por falcatruas são fundamentais para garantir que apenas os mais pobres paguem pela crise econômica (e, depois, continuem pagando), representantes dos Três Poderes se juntam para que tudo fique como está até a entrega do pacote.

Enquanto isso:

A saúde e a educação públicas vão pro ralo
A PEC do Teto foi aprovada pelo Congresso Nacional nesta terça (13). Nos próximos 20 anos, com os gastos públicos sendo reajustados apenas pela inflação, vamos ver o Estado ser (mais) incapaz de garantir educação, saúde, ciência e tecnologia, cultura, segurança a quem não pode pagar por elas. Ou seja, a xepa.

Muitos vão morrer antes de aproveitar a aposentadoria
O processo de Reforma da Previdência está em curso sem que se discuta com a sociedade a melhor forma de adaptar a aposentadoria a um Brasil mais velho. Idade mínima de 65 anos – em um país no qual trabalhadores braçais muitas vezes não chegam a isso. Ao menos 25 anos de contribuição – em uma economia que não gosta de assinar carteira de trabalho. E quase meio século para aposentadoria integral.

Você vai trabalhar mais e ganhará e descansará menos
A Reforma Trabalhista também está correndo no Congresso e a primeira grande mudança deve ser a permissão para terceirizizar todas as atividades de uma empresa. Bancários, motoristas de ônibus, operários, todos poderão ter que abrir uma empresinha individual, escolhendo entre direitos e o emprego. A fórmula para o aumento do salário mínimo, que o atrelava ao crescimento do PIB e da inflação, já rodou junto com a aprovação da PEC do Teto.

Isso sem contar a pressão por mais degradação da legislação ambiental, pelo fim da demarcação de novos territórios indígenas, pelo sucateamento aprovação de leis que dificultam o combate ao trabalho escravo, por uma reforma educacional do ensino médio imposta que não leva em conta as discussões da sociedade.

Ao mesmo tempo, um mundo com unicórnios saltitantes, arco-íris deslumbrantes e lírios desabrochantes, com rios de leite e mel, surge como a imagem do país após as reformas, seja  nas propagandas governamentais da TV, seja nas promessas dos ministros em coletivas.

Como mostrou a pesquisa DataFolha, divulgada nesta terça, a população começa a demostrar sua insatisfação com o que promete ser a maior passada de mão na bunda da história do país. Passada de mão sem autorização prévia, claro. A dúvida é se ela irá às ruas em peso ou seguirá bestializada, sentindo-se impotente, assistindo a tudo diante da TV

Ou seja, parece estratégia política. Mas é sacanagem mesmo.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.