Que tal João Doria usar sua fortuna para indenizar vítimas das marginais?
O prefeito eleito João Doria afirma que manterá sua promessa de campanha e a aumentará a velocidade nas marginais em São Paulo.
A pista expressa passará de 70km/h para 90km/h, a central de 60 km/h para 70 km/h e a local de 50km/h para 60 km/h – com exceção da faixa da direita, que não sofrerá mudança. Para evitar acidentes, promete investir em sinalização e campanhas de conscientização.
Como todo político, apesar de não se apresentar como tal, Doria prometeu muita coisa que não poderá cumprir para ganhar a eleição. Por exemplo, depois de eleito, percebeu o erro de aumentar a velocidade das marginais, via expressas de grande fluxo de automóveis na capital paulista. Mas acredita que perderá mais, junto ao eleitor, aparecendo como alguém que não cumpre a palavra do que com as consequências de sua decisão.
O número de atropelamentos e acidentes fatais caiu consideravelmente com a redução da velocidade na gestão Haddad. E não são poucos os especialistas em trânsito que afirmam que o número e a gravidade dos acidentes poderá aumentar. Até o governo do Estado está preocupado com o retorno da velocidade, uma vez que consequências negativas podem respingar nas pretensões políticas do padrinho do novo prefeito.
O período com menor velocidade e menos mortes não foi longo o suficiente para gerar uma mudança no comportamento das pessoas – lembra o quanto alguns espernearam por serem obrigados a usar cinto de segurança, muitos anos atrás, até que isso se tornasse prática comum?
Ao invés de analisar o próprio comportamento atrás do volante e refletir sobre as prioridades da vida, há quem xingue a redução de velocidade máxima na cidade e tape os ouvidos quando a imprensa informa que grandes cidades do mundo também estão reduzindo seus limites. Mas, se somos incapazes de sentir empatia pelo semelhante, administradores públicos não poderiam e não deveriam agir dessa forma.
O prefeito eleito é um homem rico. Tanto que tirou milhões do bolso para a sua própria campanha eleitoral e de vereadores de seu partido. Portanto, sugiro desde já, que ele seja generoso e use uma parte de sua fortuna para gerar um fundo destinado às famílias de vítimas fatais em acidentes nas marginais, que será ativado se o número de mortes voltar a crescer após o aumento nas velocidades.
Podemos criar um nome inovador para o fundo, como "Corre, São Paulo!" ou "Vam'bora, Paulista!", ou algo mais solene como "Fundo Paulistano por Nossos Mártires do Progresso" ou ainda "Fundo João Doria para o Crescimento de São Paulo" – que é mais pessoal. Dinheiro não repõe nunca a ausência de um ente querido, mas ajuda a muitas famílias a não ficarem ao relento.
Achou a proposta demagógica e surreal? Claro que é. Tão tosca quanto o ridículo "Tá com dó? Leva pra casa!"
Mas considerando que somos um povo que conseguiu o feito de transferir a cidadania das pessoas para os automóveis e criamos argumentos pífios para dar a eles mais direitos que nós, eu diria que surreal e demagógica é São Paulo.
Nós, paulistanos, ou melhor, o Povo do Horizonte Marrom nos Dias Frios, nos refestelamos em ar condicionado potente, bancos confortáveis e um aparelho de som master-blaster double stereo high quality que tem que ser forte para esconder o barulho da buzina do lado de fora. Acreditamos, piamente, que não morremos a cada dia com a poluição de nossa própria ignorância e nos tornamos menos humanos pela perda de empatia com quem anda sem motor. E entorpecidos pela promessa vazia da liberdade dos comerciais de TV, que vendem sonhos na forma de possantes em 60 vezes, esquecemos que os minutos que ganhamos no trânsito não compensam uma vida.
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