Um escravocrata na presidência?
Depois de ter um presidente que fez lobby por uma fazenda reincidente no uso de trabalho forçado, a Câmara pode ganhar um que usou, ele mesmo, mão-de-obra escrava.
Após empresas como Ipiranga e Petrobrás assumirem o compromisso de barrar fornecedores de álcool combustível que utilizaram mão-de-obra escrava, o então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE) ligou para as empresas para saber por que o álcool da Destilaria Gameleira não estava mais sendo comprado.
A empresa em questão é controlada por um conterrâneo de Severino, Eduardo Queiroz Monteiro (irmão de Armando Queiroz Monteiro, presidente da Confederação Nacional da Indústria), e recordista no número de trabalhadores libertados em uma única operação do governo federal – 1003.
Severino disse que a ligação foi feita a pedido de deputados federais. Na época, a repercussão na imprensa e junto à sociedade civil do lobby do parlamentar agindo em prol da iniciativa privada foi bastante negativa.
Agora, quem pode assumir (de novo) a presidência da Casa é Inocêncio Oliveira (PL-PE). Ele é proprietário da fazenda Caraíbas, da qual, em março de 2002, foram libertadas 53 pessoas mantidas em situação análoga à de escravo. Inocêncio vendeu a propriedade, que fica no município de Gonçalves Dias, no Maranhão, mas isso não o livrou de constar da primeira "lista suja" – o cadastro do governo federal que relaciona os que foram comprovadamente flagrados utilizando esse tipo de mão-de-obra.
Ele já foi condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional do Trabalho da 16a Região pelo crime e está recorrendo da decisão.
Inocêncio quer ser uma opção dos deputados do "baixo clero" aos nomes do PC do B, PT, PFL-PSDB ao segundo posto na linha sucessória da Presidência da República. No vácuo criado pelas brigas internas da base governista, Severino Cavalcanti chegou lá. Pode ser que Inocêncio não prospere e que tudo isso seja apenas mais uma ação para trazer mais poder para o primeiro-secretário da Câmara.
Mas, senhores deputados, tendo em vista o desgaste de vossa Casa no quesito ética perante a opinião pública, vale a pena pagar mais esse mico?
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.