Topo

Leonardo Sakamoto

E os fazendeiros ainda o amam

Leonardo Sakamoto

15/02/2007 11h53

De acordo com a notícia abaixo, o governador Blairo Maggi não vai mais plantar soja. Mas, vale lembrar, a Amaggi, sua empresa, continuará comprando soja de outros e exportando. Da mesma forma que a Nestlé não tem vacas, a Cargill não cultiva milho e as fábricas alemãs de café não tem um cafezal sequer – apesar de serem líderes nessas áreas. Ou seja, ele está assumindo de vez que vai se dedicar apenas a ganhar dinheiro explorando produtores.

E os fazendeiros ainda o amam. Tem coisa que não dá para entender…

Maggi revela que não pretende expandir sua área agrícola

Conhecido como "rei da soja", o governador Blairo Maggi (PR) revelou nesta sexta-feira que não tem a pretensão de expandir sua área agrícola. Em discurso durante encerramento do seminário "Nortão – dificuldades, desafios e soluções", em Sinop, Maggi defendeu que a BR 163, considerada fundamental para o escoamento da produção, seja asfaltada ao menos até Miritituba (PA). Setecentos e sessenta quilômetros faltam para serem pavimentados, entre Guarantã do Norte (MT) e Santarém (PA).

"Se me perguntarem se ainda quero aumentar minha área, respondo que não quero mais abri-la. Cansei de levar bordoada, tanto como produtor quanto como governador", declarou, após dizer que "o Estado não tem condições técnicas para se transferir para perto de um porto", reconhecendo que a logística ainda é deficitária. Maggi planta cerca de 200 mil hectares, segundo informaram fontes próximas a ele.

"O setor madeireiro terá de ser reflorestado. O futuro talvez seja plantar árvores novamente. Não podemos mais fazer afrontamento ao mercado mundial. Não somos mais donos do nosso próprio nariz. (…) É preciso estabelecer políticas sustentáveis que dêem retorno não somente a quem tem propriedades. É preciso distribuir renda", pontuou Maggi.

A exemplo de discursos anteriores, Maggi exortou os prefeitos a se empenharem e buscarem os investimentos. "Se baixarem os impostos, vamos acabar de quebrar os municípios. Quando a coisa está ruim, temos de apertar os cintos", recomendou.

Crítica — Na avaliação do prefeito Nilson Leitão (PSDB), o governador Blairo Maggi foi infeliz nas colocações. "O governador não pode dizer que os prefeitos precisam buscar os empresários na marra. Os empresários reclamam da falta de estrutura. Não adianta inverter o jogo. Também não adianta comparar Sinop com Lucas do Rio Verde e com outros 40 municípios que estão fora do bioma amazônico", criticou.

Produtor rural desde 1975 e membro do Sindicato Rural de Nova Canaã do Norte, Mario Wolf renovou a esperança. "Parece que não é mais promessa, já tem verbas e o problema ambiental está resolvido", comentou, sobre a BR 163, cujas obras estão previstas no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. Na opinião de Wolf, os limites da expansão vão beneficiar o próprio produtor. (Secom/Catarine Piccioni)

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.