Axixá
Na tarde desta terça (24), o cortador de cana Lourenço Paulino de Souza, de apenas 20 anos de idade, morreu na região de Barretos após seu primeiro dia de trabalho na Usina São José. O Ministério Público do Trabalho vai investigar a morte – a 19ª entre os cortadores de cana nos últimos três anos no Estado de São Paulo.
A Repórter Brasil, ONG do qual faço parte, desenvolve um projeto de prevenção ao trabalho escravo do Bico do Papagaio, norte do Tocantins, onde fica Axixá, terra natal do rapaz. A idéia básica é informar à população de seus direitos para que não seja explorada no trabalho.
Luzanira, moradora de Axixá e uma das participantes do projeto, nos informou ontem que conseguiu convencer seu filho a não embarcar no mesmo ônibus de trabalhadores que levou Lourenço para São Paulo. Bem poderia ter sido ele.
A migração para o corte de cana no Centro-Sul do país é como um roleta-russa para muitos trabalhadores. Você pode dar sorte e voltar com algum dinheiro para casa ou tornar-se escravo nas lavouras. Certeza mesmo é que todos vão atingir o limite de seus corpos ao cortar toneladas de cana para aumentar o salário devido ao ganho por produtividade e levar mais dinheiro para casa.
Enquanto Axixá perde um filho, o Brasil bate recordes de produção, exportação e lucratividade de álcool e açúcar.
Vela-se, enterra-se e parte-se para outra. Afinal de contas, assim como Lourenço ou o filho de Luzanira, há milhões de outras pessoas que compõe um exército de mão-de-obra reserva – para repor as peças quando estas estiverem gastas, velhas ou apresentarem defeito, assim, de repente.
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