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Leonardo Sakamoto

Governo resgata quatro trabalhadores de fazenda de prefeito

Leonardo Sakamoto

30/04/2007 10h38

O grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego retirou, nesta sexta-feira (27), quatro pessoas em situação degradante de trabalho da fazenda Verena II, no município de Novo Repartimento, Estado do Pará. Os quatro – um pai e três filhos, sendo um deles com 17 anos – limpavam o pasto que pertence a Adelson Souza de Oliveira, prefeito do município baiano de Iaçu, eleito pelo PMDB. Proprietário nega irregularidades e afirma que é alvo de "sensacionalismo".

De acordo com o coordenador do grupo móvel, o auditor fiscal do trabalho Klinger Moreira, a fazenda que está distante 100 km do povoado de Vila Maracajá, na rodovia Transamazônica, possui cerca de 2500 cabeças de gado e 600 alqueires de área. Adelson afirmou que metade dessa área pertence a ele (o que equivaleria a 800 hectares) e metade ao irmão.

Segundo Klinger, os quatro estavam em barracões de lona no meio da mata, sem condições de segurança e higiene e sem água potável desde o dia 19 de março. As ferramentas de trabalho e os equipamentos de proteção individual – que, por lei, devem ser fornecidos gratuitamente pelo empregador – estariam sendo descontados dos salários dos trabalhadores.

"Isso não procede. Estão fazendo sensacionalismo. A lona era para descanso dos trabalhadores ao meio dia. Eles têm alojamento na fazenda e os meus funcionários possuem carteira assinada." Adelson de Oliveira afirma que todos estavam ali por opção própria. "Nonato [o pai da família] já trabalhou comigo várias vezes na fazenda. Ele mesmo deu uma declaração que se dá muito bem comigo e com a fazenda."

O prefeito afirma que vai levar a questão à Justiça por abuso de poder. "Eles acham que a realidade do trabalhador em um serviço rural é como se fosse em uma Ford ou uma GM", reclama o prefeito.

"O proprietário se aproveita de uma situação desesperada dos trabalhadores para colocá-los em uma situação como aquela", afirma Klinger. "O trabalhador não tem outra condição de vida. Aí chega ao absurdo de considerá-lo um bom empregador." Além dos auditores fiscais também participaram da operação a Polícia Federal e Januário Justino Ferreira, procurador do Ministério Público do Trabalho.

De acordo com Adelson, até esta quarta-feira os seus advogados devem regularizar a situação na Delegacia Regional do Trabalho. O grupo móvel de fiscalização permanecerá na região até que os trabalhadores recebam os salários e direitos trabalhistas.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.