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Leonardo Sakamoto

Traga a sua poluição para Açailândia

Leonardo Sakamoto

23/05/2007 16h28

De São Luís (MA) – "Se tiverem que vir empresas que poluem, que poluam."

A frase acima foi dita pelo prefeito de Açailândia (MA), Ildemar Gonçalves, de acordo com entidades sociais que participaram de reunião com ele sobre a criação do Distrito Florestal de Carajás na última sexta-feira (18).

Isso me lembrou um anúncio do governo do Estado de Goiás que foi veiculado em revistas na década de 70 – quando questionar o padrão de desenvolvimento da ditadura dava caso de polícia. Em uma foto em preto e branco, duas chaminés cuspiam fumaça no céu. Embaixo, um convite: "Traga a sua poluição para Goiás".

Com o passar dos anos, a fronteira agrícola avançou para o Norte e, com ela, esse discurso de crescimento econômico a qualquer custo.

Um dos objetivos da criação de distritos florestais é racionalizar a exploração dessas áreas. O que os movimentos sociais apontam, contudo, é que o Distrito de Carajás vai intensificar o enriquecimento de alguns frente a exploração de trabalhadores e do meio ambiente.

Açailândia não é uma cidade qualquer. Com 106 mil habitantes, possui a segunda maior arrecadação de impostos do estado por sediar siderúrgicas de ferro gusa do Pólo Carajás. Ao mesmo tempo, é o município do Maranhão com maior número de residentes que foram libertados da escravidão pelo governo federal entre 2003 e 2007 – o que mostra que essa riqueza não é repassada à população.

O prefeito disse a empresários que resolveria os entraves para o Distrito de Carajás. É importante que o governo federal, responsável por essa política, fique de olho e não deixe que o rolo compressor econômico passe, novamente, por cima de quebradeiras de coco, camponeses, indígenas e trabalhadores rurais.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.