E se os políticos brasileiros adotassem o harakiri?
Nos meus anos de "nihongako" (aquela escola de japonês que os descendentes acabam sendo obrigados a fazer quando crianças), ouvi pela primeira vez falar do harakiri – o suicídio ritual realizado para evitar ou compensar a perda da honra da família devido a uma burrada que o sujeito fez. Uma espada é enfiada no ventre, rasgado em forma de cruz. Violento, mas esteticamente delicado.
Hoje, o ministro da Agricultura do Japão Toshikatsu Matsuola cometeu suicídio, não com uma lâmina afiada, mas através do enforcamento. A razão são os escândalos de corrupção e mau uso de recursos públicos em que estava envolvido.
O harakiri foi muito usado após a Segunda Guerra Mundial por militares que negaram a rendição por não agüentarem ver o império que não perdia uma guerra havia mais de 2 mil anos reduzido a cinzas. Ainda hoje, o ritual é praticado por diretores de multinacionais e outros altos postos. A discussão se isso é um ato de coragem ou de covardia é longa, por isso nem irei adentrar nessa seara.
No Brasil, o mais próximo disso talvez tenham sido os mergulhos para a morte feitos pelos investidores e barões do café do alto das sacadas de seus casarões na avenida Paulista, quando houve o crack da bolsa de Nova Iorque em 1929, e a cafeicultura viveu tempos de horror.
O que aconteceria se o harakiri fosse importado para os dias interessantes em que vivemos? Diante das sucessivas notícias sobre corrupção, temo que não haveria espadas (ou navalhas) suficientes para tantos empresários e políticos envolvidos nos escândalos. Só no período FHC-Lula tivemos, por exemplo, a compra de votos de congressistas para a emenda da reeleição, o dinheiro que rolou no processo de privatização de estatais, mensaleiros e sanguessugas.
Os suicídios em massa também causariam um impacto na economia: restaurantes finos de São Paulo e Brasília, onde negociatas são fechadas a vinhos e conhaques caros, fechariam as portas, além das lojas de artigos de luxo onde são vendidos mimos bancados com o dinheiro do contribuinte.
Mas, para isso, eles teriam que saber o que é vergonha e honra, o que está longe de acontecer.
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