Lembrete para o PAC: no Brasil, o bolo nunca é dividido
Os lucros recordes dos bancos brasileiros e de grandes empresas, como a Vale do Rio Doce, estão sendo alardeados como motivo de júbilo para toda a nação. E justificam o discurso de que é necessário – e patriótico – extirpar todos os entraves para o investimento em infra-estrutura, garantindo a continuidade dessa fartura. Os embates gerados pela construção das hidrelétricas de Belo Monte, no rio Xingu, de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, e de Estreito, no rio Tocantins, são exemplos disso.
As populações atingidas são tratadas como efeitos colaterais menores do crescimento e, portanto, contornáveis.
A busca pelo progresso a qualquer custo não é novidade, mas em tempos de obcessão pelo crescimento do país, é importante ressaltar uma informação sempre esquecida para trazer luz a esta discussão.
Entre 1994 e 2002, a participação do trabalho na renda caiu de 40% para 36,1% do produto nacional. Enquanto isso, a participação do rendimento do capital (lucro) cresceu de 38% para 41,9% do PIB neste período – dados do IBGE.
Nos países desenvolvidos, a renda do trabalho representa mais de 60% do PIB. O que deveria ser lógico, pois apenas trabalho gera valor.
Ou seja, o Brasil cresce, mas a renda tem saído da classe trabalhadora para aportar nos donos de empresa e sistema financeiro. Nos últimos anos, os programas de transferência de renda ajudaram a amenizar o quadro, mas não a mudá-lo.
Não é necessário fazer aulas de história da economia. Podemos ver ao vivo e a cores um processo de acumulação primitiva, com a expulsão de comunidades tradicionais para a implantação de hidrelétricas, fazendas, indústrias e mineradoras e a apropriação de suas terras e recursos naturais na Amazônia aliadas à exploração intensiva do trabalho, arrancando ao máximo o que o povão pode dar. Com isso, ganha-se competitividade. E lucro.
Nesse contexto, me pergunto: crescer para quê? Ou melhor, para quem?
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