Topo

Leonardo Sakamoto

Tiro em pato no parque de diversões

Leonardo Sakamoto

29/06/2007 08h10

"Se morreram, é porque são bandidos", disse um comandante.

"Todos são suspeitos até que se prove o contrário", afirmou outro.

"Foi igual a dar tiro em pato no parque de diversões", resumiu um policial civil.

A mira dos agentes de segurança no Rio deve ser tão afiada quanto a sua língua. Afinal de contas, acertar um tiro na nuca de um suspeito no meio de um confronto armado demanda muita precisão do policial. Ou é destreza ou é covardia, com o tiro sendo dado pelo representante do Estado em uma execução sumária, com a pessoa já rendida e de costas.

Como a polícia vetou o perito da Ordem dos Advogados do Brasil para acompanhar as autópsias nos 19 mortos, fico com a covardia. O que reveste de chacina a ação policial. Considerando que o governo já avisou que esse tipo de ocupação vai virar moda, já podemos considerar que o Rio optou pelo caminho mais fácil do terrorismo de Estado por causa dos Jogos Panamericanos.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.