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Leonardo Sakamoto

Capataz de fábrica que usava escravos é condenado à morte

Leonardo Sakamoto

17/07/2007 10h11

Essa pena foi pelo assassinato de um dos escravos e não pela escravidão em si. O interessante é que os capatazes, ou seja, o baixo clero, receberam pena maior que os donos.

Os envolvidos vão ser punidos com cadeia, mas serão bodes espiatórios, porque o escândalo ganhou o mundo. Como disse um amigo que está por lá, pegam-se uns, matam-se outros, para restaurar a harmonia. E o problema é jogado novamente para baixo do tapete, pelo bem do crescimento.

Da Agência EFE:

O capataz da primeira fábrica de tijolos chinesa onde foram encontrados escravos este ano, Zhao Yanbing, foi condenado à pena de morte por ter assassinado um dos trabalhadores, informou nesta terça-feira a agência estatal 'Xinhua'.

Zhao era um dos encarregados de comandar os escravos na fábrica de Hongtong, na província de Shanxi, no norte do país. Ele foi declarado culpado de espancar até a morte um dos operários, deficiente, como punição por ele não ter trabalhado 'o bastante'.

A sentença foi ditada pelo Tribunal Popular do distrito de Linfen, na província de Shanxi. O local é um dos principais focos do escândalo.

Os tribunais também anunciaram hoje a condenação à cadeia perpétua de Heng Tinghan, outro capataz da mesma fábrica. Ele comoveu a China ao declarar à imprensa, após ser detido, que espancar e escravizar pessoas não era 'grande coisa' na sua opinião.

Em outra sentença do mesmo tribunal, Wang Bingbing, dono da fábrica e filho do líder comunista do distrito, foi condenado a nove anos de prisão. Outros 26 empregados da fábrica foram condenados a diversas penas, de três meses a 18 anos.

Foi o primeiro julgamento no escândalo dos 'escravos do tijolo'.

Ontem também se informou que 95 líderes comunistas locais foram punidos ou destituídos por sua relação com o caso.

A televisão chinesa divulgou imagens fortes, mostrando 29 operários da fábrica de Hongtong que foram resgatados no fim de maio. Eles apareceram vestidos com farrapos, descalços, alimentados só com pão e água, e depois de sofrer maus-tratos a ponto de muitos nem sequer lembrarem seus dados pessoais.

No total, foram resgatadas 600 pessoas que trabalhavam como escravas ou seriam vendidas nas províncias de Henan e Shanxi, entre eles dezenas de crianças.

Os pais de 400 crianças desaparecidas garantem que ainda há dezenas, talvez centenas de pessoas escravizadas.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.