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Leonardo Sakamoto

Cansamos

Leonardo Sakamoto

30/07/2007 21h46

A CUT prepara uma resposta ao movimento "Cansei" – Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros – organizado pela OAB-SP e parte da elite brasileira e bem resumido pela charge do Angeli que postei ontem. De acordo com o Blog do Fernando Rodrigues, a Central está esperando um resposta dos sindicatos para botar a sua campanha na rua. Tirando as motivações governistas da CUT, a idéia vem em boa hora.

O conteúdo da campanha seria esse:

CANSAMOS!</string?

• do trabalho escravo
• da sonegação de impostos
• do trabalho infantil
• da mídia que não aborda os movimentos sociais
• das jornadas de trabalho desumanas
• da mídia que criminaliza as lutas populares
• da Justiça que privilegia o poder econômico
• da mídia que só dá espaço aos poderosos
• do lobby das grandes empresas sobre o poder público
• das altas taxas de juros
• dos acidentes de trabalho
• da superexploração da mão-de-obra
• das taxas bancárias
• da precarização das condições de trabalho
• do superávit primário
• dos ataques aos serviços públicos
• da falta de direitos trabalhistas para mais da metade da população

Apesar de tantas razões, não temos tempo para sentir cansaço. Continuaremos lutando. Precisamos de sua participação. Filie-se ao seu sindicato!

O fato do primeiro ponto ser o trabalho escravo é bastante simbólico. Pois ele significa não apenas o roubo da dignidade do trabalhador (tratado como um animal, privado de sua liberdade), mas também a busca pelo lucro a todo o custo (que inclui o sangue e o suor alheio), pressionada por um sistema cego que beneficia uns poucos em detrimento de muitos. Sem generalizar, mas vale lembrar que esses poucos são muitos dos que organizam o Cansei.

Bem, cada um desses pontos dá um livro.

Acrescentaria apenas mais um:

• da imensa cara-de-pau da elite brasileira, que não cansa de surpreender por sua incrível capacidade de viver em torno do próprio umbigo.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.