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Leonardo Sakamoto

Assassinos de mártir da luta pela terra serão julgados no MA

Leonardo Sakamoto

19/09/2007 18h42

Padre Josimo é considerado um dos mártires da luta das populações marginalizadas pelo acesso à terra no Brasil. Está ao lado de outros como Chico Mendes, no Acre, e Dorothy Stang, no Pará, que foram calados covardemente pelo latifúndio. OK, você pode nunca ter ouvido falar dele, ao contrário dos outros dois. Mas Josimo é considerado um herói. Ajudou os posseiros da região do Bico do Papagaio, Norte do Tocantins, a se organizarem contra aqueles que os expulsavam de suas terras, além de incentivá-los a irem atrás de seus direitos, organizando sindicatos e associações. Foi um dos precursores na região da Teologia da Libertação, que prega – para desespero do cardeal Ratzinger – que a alma só será livre se o corpo assim o for.

Como os outros dois, a sua morte ainda não alcançou justiça de verdade. Os assassinos de Chico Mendes foram presos, mas viviam uma vida de mordomia na cadeia. E a sociedade ainda tenta condenar todos os que deram a ordem para matar Dorothy.

Josimo foi assassinado no dia 10 de maio de 1986, enquanto subia as escadas do escritório da Comissão Pastoral da Terra de Araguaia-Tocantins, em Imperatriz (MA). O pistoleiro Geraldo Rodrigues da Costa disparou duas vezes com uma pistola de calibre 7,65.

Geraldo foi condenado, em 1988, a 18 anos e 6 meses. Conseguiu fugir da penitenciária por três vezes. Depois da última, nunca mais foi encontrado. Há informações de que faleceu durante fuga após um assalto na cidade tocantinense de Guaraí.

Em 1993, foi apresentada uma denúncia, apontando como mandantes do assassinato Geraldo Paulo Vieira, Adaílson Vieira, Osmar Teodoro da Silva, Guiomar Teodoro da Silva, Nazaré Teodoro da Silva, Osvaldino Teodoro da Silva e João Teodoro da Silva.

Em 1998, Adailson Vieira, Geraldo Paulo Vieira (pai do Adaílson) e Guiomar Teodoro da Silva foram julgados e condenados. Os dois primeiros receberam pena de 19 anos de reclusão e Guiomar, de 14 anos e 3 meses.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra, João Teodoro da Silva faleceu antes de ser levado a julgamento. Geraldo morreu alguns meses depois da sentença. Osmar Teodoro da Silva ficou foragido durante anos, sendo capturado pela polícia somente em 2001, depois da história ter sido retratada no programa Linha Direta, na TV Globo. Em setembro de 2003, ele foi condenado, por unanimidade, a 19 anos de reclusão.

Dois dos acusados de serem os mandantes do crime, Nazaré Teodoro da Silva (Deca) e Osvaldino Teodoro da Silva (Mundico), haviam sido absolvidos em março de 2004. Contudo, a decisão foi anulada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Agora, um novo Tribunal do Júri vai analisar o caso no dia 16 de outubro de 2007, no município de Imperatriz.

E Guiomar Teodoro Filho não quis pagar o pato sozinho. Com base em suas denúncias, foram também envolvidos João Batista de Castro Neto, José Elvécio Vilarino e Pedro Vilarino Ferreira.

Pedro morreu e não será julgado. João Batista, que é juiz aposentado, tornou-se procurador do município de Araguaína. É fazendeiro como Elvécio. E enquanto seus processos correm, eles estão livres.

Isso daria um filme! Já deu uma peça de teatro, que foi encenada por jovens atores do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia em uma turnê pelo país.

Como é impossível um final feliz, esperemos pelo menos um desfecho menos triste dessa vez. Com justiça.

(Com informações da Comissão Pastoral da Terra)

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.