Desmatamento volta a subir na Amazônia brasileira
Não estou torcendo para que as coisas dêem errado, muito pelo contrário. Mas sempre vi com ceticismo as declarações de que a diminuição da taxa de desmatamento anual da Amazônia representava um processo consistente. Até porque nenhuma das políticas implantadas até agora teve, a meu ver, força suficiente para fazer com que a floresta não virasse pasto, lavoura e carvoaria. Ou melhor dizendo, nenhuma das ações de Estado tocou na questão principal, que é o modelo de desenvolvimento.
Não queria dizer "eu avisei", mas… Estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgadas ontem, apontam que o desmatamento cresceu 8% entre junho e setembro de 2007 em comparação ao mesmo período do ano passado (veja matéria na Folha de S. Paulo de hoje).
Há alguns anos, venho escrevendo que, no que pese os seus louváveis esforços, o Ministério do Meio Ambiente tem menos controle sobre o desmatamento na região amazônica do que a Chicago Board of Trade, nos Estados Unidos, e os empresários de Roterdã, na Holanda, onde se define o preço mundial da soja. O grão passou um longo período com preço baixo no mercado internacional, o que freou sua expansão sobre a Amazônia e o Cerrado. Como não valia a pena economicamente, o agronegócio não se expandiu sobre novas áreas. Agora, que o preço volta a atingir patamares interessantes, ouve-se o despertar das motosserras.
Ao mesmo tempo, a demanda por etanol está levando a uma busca incessante por terras em locais de agricultura consolidada para plantar cana, expulsando outras culturas em direção à fronteira. Em Goiás, por exemplo, é visível a briga entre cana e soja. Nessa briga, quem sai perdendo é o meio ambiente e as populações tradicionais. Mas aí já é outra história.
A culpa não é do MMA. É difícil lutar contra um inimigo que tem aliados dentro da própria casa. Afinal de contas, o governo federal é um dos maiores incentivadores dessa política de expansão, incensando o etanol e apoiando com subsídios agrícolas aqueles que desmatam. Na esperança de que, lá na frente, isso tudo gere caixa para pagamento da dívida externa.
Ainda é cedo para afirmar que o desmatamento volta com toda a força, mas o dado é um sinal preocupante. E um indício de que o céu não estava tão azul assim.
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