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Leonardo Sakamoto

Um mês péssimo (e violento) para o povo do campo no Brasil

Leonardo Sakamoto

21/11/2007 23h00

Brasília – O último mês foi péssimo para as populações rurais.

No dia 15 de outubro, Tomé Guajajara, da terra indígena Araribóia, em Amarante (MA), foi assassinado por 15 pistoleiros que invadiram sua aldeia. A morte está relacionada aos madeireiros da região. Quatro dias depois, José Antônio de Sousa, lavrador, sindicalista e liderança no município de Viana, também Maranhão, foi assassinado na porta de sua casa devido à sua pela terra. No dia 21 de outubro, Valmir Mota de Oliveira, dirigente do MST e da Via Campesina, foi assassinado durante a ocupação da propriedade da multinacional Syngenta, em Santa Teresa do Oeste (PR). De acordo com testemunhas, cerca de 25 homens que vestiam coletes da NF Segurança, contratada pela empresa, desceram de um ônibus e dispararam contra os militantes (outros cinco ficaram feridos e um segurança morreu. A empresa de segurança foi indiciada por homicídio e formação de quadrilha no caso). No dia 13 de novembro, 831 trabalhadores indígenas foram resgatados de condições degradantes da fazenda e usina de cana-de-açúcar Debrasa, unidade da Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool (CBAA), em Brasilândia (MS). Encontrar trabalho degradante desse tamanho não é novidade, mas com uma quantidade assim indígenas sim. No dia 17 de novembro, quatro guaranis foram baleados em ação de despejo organizada por fazendeiros no Sul do Mato Grosso do Sul, próximo ao município de Amambai.Por fim, nesta semana vieram à tona novos planos para tirar a vida de frei Henri des Roziers, um dos maiores lutadores dos direitos humanos que o Brasil já teve e que vive há mais de 20 anos em Xinguara, Sul do Pará.

Ufa! Isso não é tudo, mas é o que chegou aos ouvidos da maioria das pessoas. Ou seja, não inclui as várias outras mortes e violências contra camponeses, indígenas, quilombolas, ribeirinhos e trabalhadores rurais que permanecem anônimas.

Hoje, faz sete anos que José Dutra da Costa, o Dezinho, foi assassinado em Rondon do Pará. Ele era um dos mais combativos sindicalistas do estado e dedicou sua vida à luta pela reforma agrária. O pistoleiro foi o único condenado pelo crime (como sempre, o mais pobre é o único a ser pego), sendo que os outros envolvidos permanecem impunes. Com a ajuda do poder judiciário e do ministério público do município, que inocentaram o mandante em um decisão bizarra. Não é o único caso de assassinato de sindicalista que fica sem solução na fronteira agrícola amazônica. E não será o último.

Afinal de contas, tudo segue como sempre. Com a anuência de parte do poder público e a benção de parte do caixa do agronegócio.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.