E o Troféu Frango vai para o Jornal da Globo
Assisti à escalada (anúncio das matérias mais importantes) do Jornal da Globo de ontem. E ainda estou curioso para saber se a apresentadora Christiane Pelajo não ficou com vergonha de ler o texto que lhe deram sobre a manchete do dia: a libertação de duas mulheres mantidas reféns há mais de cinco anos pelas Farc na selva colombiana em uma negociação que coordenada pelo presidente da Venezuela Hugo Chávez.
Pelajo, sozinha na bancada, geralmente dividida com William Waack, olhou compenetrada para a câmera e começou a escalada. Primeiro, classificou as Farc de narcoguerrilheiros. Umas seis vezes. Depois, anunciou que a opinião mais importante sobre o tema era do porta-voz de… Uribe? Chávez? Não, Bush!
Que a Globo não gosta do presidente venezuelano isso é notório. Mas o jornalismo da emissora paga uns micos por causa desse ódio.
A escalada foi uma tentativa de dar outro enfoque à notícia da libertação de ambas, minimizando assim o que seria uma vitória política de Chávez. No meio da apresentação, Pelajo disse, com voz severa, algo como "antes de comemorar é bom ouvir o porta-voz da Casa Branca". Corte para o porta-voz: "elas nunca deveriam ter se tornado reféns". Ah, vá! É sério? Como ninguém tinha pensado nisso antes?
Enfim, não pareceu uma notícia e sim um resmungo, um ruído. Eu até pensei: será que eles carregaram de ironia e eu que não estou percebendo? Mas as pessoas que estavam ao meu lado na hora confirmaram que era aquilo mesmo.
Seria mais elegante colocar o Arnaldo Jabor para fazer um comentário irônico no meio do jornal ou chamar um dos articulistas da emissora para bater em Chávez durante uma entrevista pingue-pongue na bancada do telejornal do que usar o porta-voz da Casa Branca como referencial de legitimidade. Que papelão…
O interessante é que a reportagem em si, lá dentro do telejornal, ficou boa. O próprio correspondente da Globo no Estados Unidos, Jorge Pontual, derramou ironia ao comentar o discurso desse mesmo porta-voz da Casa Branca, que só citou Chavéz após ser pressionado pelos jornalistas da coletiva de imprensa e, ainda assim, de forma bem desconfortável. Pontual chamou de obviedade o discurso do porta-voz – que a apresentadora havia apresentado como uma importante verdade pouco antes.
A tática é simples e é usada largamente no jornalismo. Uma manchete, uma chamada de capa ou um título desonestos podem mudar a percepção do leitor com relação à notícia. Mesmo que a matéria dentro do jornal, revista, telejornal, programa de rádio ou site esteja ok. Além disso, como a maioria das pessoas vê títulos e escaladas mas não necessariamente as reportagens acaba tendo uma visão incompleta ou distorcida da história.
Criei um tempo atrás neste blog o Troféu Frango para premiar situações bizarras em geral. O Frango, desta vez, vai para o Jornal da Globo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.