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Leonardo Sakamoto

De Chávez a Chaves, os brinquedos aceitam qualquer coisa

Leonardo Sakamoto

22/02/2008 19h49

Para o final de semana. Ganhei de uma amiga que foi à Venezuela um boneco do Chávez e de outra que foi ao México um boneco do Chaves.

Se você aperta o botão nas costas do presidente, vestido com botas e uma farda verde-oliva, ele repete três vezes um discurso. Dá mais ou menos um minuto de fala. No começo, é engraçado. Mas depois todo mundo quer ver e apertar, fica um saco. O outro, Chaves, alter-ego do Chapolin Colorado, não faz nada, mesmo assim, é simpático – por ser de pelúcia. Infelizmente essa versão não vem dentro de um barril, como uma outra a venda, mas ao contrário da outra, nesta ele tem pernas.

E falando em pelúcia, lembro que um artista plástico, uns anos atrás, fez uma exposição com vários bonecos do presidente Lula. Fez tanto sucesso que muita gente de renome quis um. Se não me falha a memória até FHC. Para espetar ou dormir abraçado – é difícil saber o que acontece entre quatro paredes…

Um amigo tem, em cima do monitor de seu computador, dois bonecos de chumbo: um do Che e outro do Fidel. Os dois são bem duros, pesados, resistentes, o que diz bastante sobre as brincadeiras de antigamente. Hoje em dia, as coisas não são feitas para durar. Tudo quebra ou rasga, como o meu Chávez e o meu Chaves.

Tenho uma foca de pelúcia, que ganhei há muitos anos. E que está entre Lyotard e Adorno na minha estante de livros. "Foca", no jargão jornalístico, é o repórter de início de carreira, empolgado, mas que faz bastante besteira também. Ela tá cheia de pó.

Bem, quem esperava algum final amarrando tudo isso com alguma análise, vai se decepcionar. Não tem filosofia, nem política. Só pelúcia.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.