Topo

Leonardo Sakamoto

Calcule aqui o quanto você estraga o planeta

Leonardo Sakamoto

28/03/2008 19h25

Pegada ecológica é um método que foi desenvolvido para avaliar a quantidade de recursos naturais necessários para produzir o que uma indivíduo consome durante um ano e assimilar os resíduos (lixo, emissão de gás carbônico, esgoto, entre outros) que ele produz. Basicamente é uma conta (entre o consumo e a capacidade da natureza de suportá-lo) que tem como resultado um indicador do impacto que você causa no mundo.

Sugiro este site na internet que faz uma estimativa da pegada individual de cada um. Você pode escolher o Brasil apontando com a seta e depois o idioma (provavelmente, português). Ele diz quantos planetas seriam necessários se todos na Terra tivessem o mesmo hábito de consumo que o nosso. E depois ajuda a calcular como diminuir esse impacto mudando certos hábitos.

Ecological Footprint Quiz

(Tirei uma boa nota em vários dos itens, mas me lasquei com o avião. Apesar de não ter carro e andar bastante de ônibus e metrô, toda a semana eu pego um avião – um dos meios de transporte mais poluentes que existe. Com isso, seriam necessários 3,8 planetas se o mundo fosse feito por pessoas como eu…)

O futuro do planeta depende de uma mudança drástica nos padrões de consumo dos mais ricos (e do sistema que foi estruturado para manter esse padrão de consumo). Se o mundo comprasse e descartasse coisas como a sociedade norte-americana, precisaríamos de outros quatro planetas iguais ao nosso para fornecer matéria-prima e receber o entulho resultante dos processos industriais e do consumo. Quem lucra com isso? As grande empresas e quem estiver ligado a elas. Quem perde com isso? Todos nós, que poluímos nosso mundo, nosso corpo e exploramos, indiretamente, outras pessoas para atender nossos hábitos.

O ato da compra é também um ato político, com conseqüências maiores do que a gente pode imaginar. E se é um ato político, ele tem o mesmo poder de um voto. Ao comprar algo, você deposita o seu aval para a maneira que determinado produto foi feito ou para um padrão de consumo como um todo. Negar uma compra, pelo impacto que determinada mercadoria pode causar (social, ambiental, trabalhista…), contribui com uma mudança no sistema.

Não estou defendendo que nos organizemos em comunidades isoladas, cultivemos juta para fiar nossas roupas, boldo e pariparoba para garantir uma reserva médica e restrinjamos nosso lazer a cânticos em torno de fogueiras. Avançamos tecnologicamente e nos beneficiamos disso – por mais que esse "progresso" tenha sido doloroso. E é exatamente por isso, pelo acúmulo de conhecimento sobre o meio em que vivemos, que é possível e lógico reformular nosso padrão de vida. Consumir apenas o que é necessário, repensando o significado de "necessário". É triste uma civilização que deposita tanta importância em badulaques para atingir a felicidade.

O debate sobre o meio ambiente emerge no século 21 como uma discussão sobre a qualidade de vida, não tratando apenas de rios poluídos e derramamento de petróleo, mas também da atual idéia de progresso – alta tecnologia aliada a uma postura consumista -, que não está conseguindo dar respostas satisfatórias à sociedade. Faz parte dessa discussão a busca por modelos alternativos de desenvolvimento humano. Que só serão efetivos caso diminuam nosso apetite por recursos naturais. E não mantenham a população mais pobre excluída dos benefícios trazidos por sua exploração atual e futura.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.