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Leonardo Sakamoto

Buenos Aires tem seus dias de Cuiabá

Leonardo Sakamoto

26/04/2008 13h21

Buenos Aires – A capital da Argentina tem sentido o gostinho (e o cheiro) de fronteira agrícola nas últimas semanas. A fumaça proveniente de queimadas feitas por fazendeiros gerou uma nuvem que abraçou a cidade, parte do país, invadiu o Uruguai e já chegou ao Rio Grande do Sul. O ar está mais denso – lembra um pouco o de Cuiabá na época do pico das queimadas na Amazônia, Cerrado e Pantanal. A chuva vem e mascara, mas não resolve, a ignorância humana.

Aqui o governo briga com os produtores rurais em várias frentes, essa é uma delas. No Brasil, somos mais permissivos. Cordiais, como diria o pai do Chico Buarque. Afinal, isso é sinal de progresso e crescimento. O ar é só um detalhe.

Enquanto isso, o governador Blairo Maggi (MT) tem a pachorra de defender o desmatamento legal como política de segurança alimentar, garantindo mais terra para lavouras. Lucro para o bolso de grandes produtores? Imagina! Isso nem passou pela cabeça de ninguém.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.