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Leonardo Sakamoto

A reforma trabalhista de Lula

Leonardo Sakamoto

30/04/2008 20h03

O governo federal novamente volta à tona com o tema da reforma trabalhista, agora com sugestões do ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger.

Para avançar casas no tabuleiro de forma mais rápida, ou seja, crescer economicamente, o governo sugere que se mude as regras do jogo, ou seja, a legislação que representa o contrato que determina as condições mínimas de compra da força de trabalho pelo capital.

Como já discuti neste blog, esse é um jogo de soma zero. Ou seja, para alguém ganhar, outro precisa necessariamente perder.

Mas com exceções de alguns setores do governo, o Executivo federal não sabe disso. Ou sabe e deu de ombros. Lula havia dito, tempos atrás, que "o mundo do trabalho mudou" desde 1943, quando a legislação que trata do assunto entrou em vigor. E sugeriu reformas, ressaltando: "longe de mim tirar direito do trabalhador. Se não puder dar, tirar não tiro".

Três opções para o governo: a) ele vai mudar a CLT e acrescentar direitos aos trabalhadores e tirar dos empresários (faz-me-rir); b) possui um conceito diferente do nosso do que seja um direito trabalhista, que não inclui FGTS e INSS, por exemplo ou c) vai operar um milagre.

Não que a reforma já não tenha despontado. A batalha pela aprovação da emenda 3 – que tira poderes dos auditores fiscais de reconhecerem vínculos empregatícios e precariza as relações do trabalho – já faz parte de uma reforma trabalhista em curso no Congresso. Há outros projetos que tratam desse tema – alguns escabrosos, como o do deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) que praticamente torna a aplicação da CLT facultativa. Ou propostas que, para desonerar a iniciativa privada, tornam desnecessário o pagamento de encargos sociais (recursos que são destinados a manutenção de políticas públicas, como salário-desemprego) e encargos trabalhistas, como o décimo-terceiro.

A MP-410, que desobriga a assinatura da Carteira de Trabalho por serviços rurais de duração igual ou inferior a dois meses, já foi um primeiro passo disso, aprovada no fechar das cortinas de 2007, quanto ninguém mais pensava que o governo podia fazer traquinagem. Avisamos que ela atrapalharia o combate ao trabalho escravo, ao facilitar as maracutaias. Os defensores dela chamaram isso de exagero. E não é que já aparecem casos em que os proprietários rurais se valem dessa lei para criar contratos de trabalho fraudulentos e justificar a escravidão pega em flagrantes?

Lula não concordou com a aprovação da emenda 3 e a vetou. Mas e os próximos projetos? Em nome do PAC, ele vai realizar o tal do milagre?

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.