Facão virou arma de destruição em massa
O uso da força é um instrumento político. É claro que devido à sua natureza, se utilizado, deve ser apenas em circunstâncias extremas, pois tende a ser uma faca de dois gumes. Pode contribuir para alcançar um objetivo, mas também gerar impactos negativos sobre a imagem junto à sociedade. Mas é uma alternativa, muitas vezes desesperada, diante da incapacidade do poder público de agir diante do desespero alheio.
O diálogo e as vias legais devem ser a primeira opção, por serem menos traumáticas. Mas nem sempre o outro lado, hegemônico, está disposto a negociar – principalmente se isso significar perda de regalias (note-se que não falei de perda de direitos, mas sim de regalias). Muitos diálogos terminam em muros intransponíveis pelas vias legais. E, vale a pena lembrar, muitas das leis que impõe desigualdades foram implantadas pelas classe sociais mais abastadas da sociedade, através da ação de seus representantes políticos nos parlamentos. Por essas e por outras, creio no poder da desobediência civil.
Para fugir da barbárie, cedemos ao Estado o uso da violência. Mas o próprio Estado (executivo, legislativo e judiciário), tomado, cooptado ou parceiro de alguns grupos sociais, é instrumento de repressão social. Nesse caso, recorrer a quem?
Uma ocupação por sem-terras de uma fazenda improdutiva, que desmate ilegalmente ou que use escravos, uma ocupação por sem-tetos de um prédio mantido fechado por especulação financeira, a retomada de uma terra indígena comida pelo agronegócio, a resistência à expulsão de comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas, que sairiam para dar lugar ao "progresso" e ao "desenvolvimento", são ações necessárias para fazer valer o direito à vida de muitas populações. Nesse ponto, devem ser consideradas como legítima defesa.
Muitas vozes se levantam para reclamar da violência resultante dessas ações, mas se calam diante de massacres, chacinas e genocídios que ocorrem diariamente sobre esses povos "bárbaros". Que, onde já se viu, usam facões e foices, armas de destruição em massa. Distantes da civilização representada por fuzis, colheitadeiras e motoserras.
Abaixo, charge de hoje do Glauco, na Folha de S. Paulo.
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