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Leonardo Sakamoto

A Amazônia tem dono. E, com certeza, não somos nós

Leonardo Sakamoto

29/05/2008 12h53

As discussões sobre o risco de internacionalização da Amazônia são bizantinas. Isso já ocorreu durante a ditadura militar, seja através das empresas estrangeiras que compraram terras, adquiriram autorizações de mineração ou lá se instalaram com apoio do Estado, seja através da subordinação da região ao capital e ao comércio internacional. Isso não mudou com a redemocratização (sic) do país, pelo contrário. A Amazônia cada vez mais vai abaixo para garantir carne, soja e madeira para o exterior e enriquecer o bolso de alguns brasileiros. Pelo menos se fosse para garantir a soberania alimentar dos brasileiros e qualidade de vida dos moradores da região, o diabo ia sorrir com menos dentes à mostra.

Com o ministro Mangabeira Unger e suas idéias, que cada vez mais se mostram alinhadas ao capital transnacional (morando tanto tempo nos EUA, será que ele sabe onde fica Santarém?), à frente dos planos de desenvolvimento sustentável da região, os entreguistas podem ficar tranqüilos. Ao mesmo tempo, camponeses, quilombolas, ribeirinhos, indígenas continuam a ser expulsos para a alegria do "progresso" daqui e de fora.

A Amazônia tem dono. Que, com certeza, não é o povo.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.