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Leonardo Sakamoto

Os laboratórios continuam zombando da gente

Leonardo Sakamoto

18/07/2008 11h13

A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo proibiu a venda e distribuição do antiinflamatório Prexige, do laboratório Novartis. Entre 2005 e 2007, houve 609 notificações de reações adversas, 147 delas consideradas graves. O remédio já é proibido no Canadá, no Reino Unido, na Austrália e na até na vizinha Argentina. Mas a Anvisa – rápida para conceder licença de venda e lenta para retirar do mercado – ainda estuda uma proibição nacional.

Convivo com uma artrose entre a cabeça do fêmur e a bacia (tudo bem, eu sempre escuto coisas do tipo "Mas, assim, tão jovem?!"). Com o frio desta época do ano aqui no Sudeste, acabo recorrendo a antiinflamatórios para aliviar a dor que aparece com mais freqüência. Ao longo do tempo, vi várias medicamentos que usava tombando uma a uma – Vioxx, Bextra, Prexige… Depois de faturar milhões no mercado, são retirados de circulação após reclamações. Apesar de não afetar tanto o estômago ou causar outros problemas colaterais de antiinflamatórios tradicionais, estes, antes chamados milagrosos, também dão chabú no corpo. Problemas do coração e do sistema circulatório são os mais freqüentes. Eu, que sou hipertenso e controlo a maldita com remédio diariamente, fico em estado de alerta.

O curioso dessa história é que, por aqui, os alertas sobre medicamentes demoram mais para serem feitos do que no restante do mundo. Certo, com exceção da África e do Sudeste Asiático, cuja população é usada como ratos de laboratórios multinacionais para novas drogas que não podem ser testadas em países ricos sob o risco de cadeia. Com isso, quem precisa tomar medicamentos de forma constante no Brasil e quer ficar bem informado sobre o que está ingerindo é obrigado a checar na internet as proibições de centros de saúde estangeiros para não ter surpresas futuras.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.