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Leonardo Sakamoto

Brasil: o país dos remédios e agrotóxicos negados pelo mundo

Leonardo Sakamoto

28/07/2008 19h26

O governo federal proibiu – antes tarde do que nunca – o antiinflamatório Prexige, responsável por graves reações adversas em centenas de brasileiros. O remédio já era proibido no Canadá, no Reino Unido, na Austrália e na até na vizinha Argentina.

Mas o Brasil continua sendo rápido para aprovar produtos químicos que trazem lucro a poucos e sendo lento para tirá-los de circulação – quando fica provado que causam danos a muitos.

A Anvisa iria iniciar uma revisão de um grupo de agrotóxicos, ou seja, através de uma consulta pública a centros de estudo e de pesquisa, verificaria quais estariam causando danos à saude. A Universidade Federal do Mato Grosso foi um dos que enviaram dados demonstrando problemas em mais de 10 produtos comercializados no país. Parte desses agrotóxicos já seriam proibidos nos Estados Unidos, na União Européia e até em alguns de nossos vizinhos latinos. Mas aqui, correm solto – literalmente – contaminando água, terra e ar. E, por conseguinte, milhares de pessoas diretamente e milhões indiretamente.

Entidades ligadas a grupos privados, que teriam interesse na comercialização desses produtos, entraram com liminar na Justiça Federal suspendendo o processo de revisão da Anvisa. O governo tenta derrubar a liminar.

Lembrando que o Brasil estava importando pneus velhos, quando o mundo inteiro quer se livrar deles, não me admira o fato de a gente ficar com o restolho da produção médica e química mundial. E pagando caro por isso.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.