Sakamoto com Tutu
Los Angeles – O evento de premiação do Freedom Awards (ao qual me refiro no post anterior) foi uma produção hollywoodiana. Coral, cantores, imagens do nosso trabalho e dos outros ganhadores passando em telões, celebridades do "show business" (alguém ainda usa essa expressão?) Antes da cerimônia, houve uma recepção ao ar livre – a entrega foi na Universidade do Sudoeste da Califórnia, um belo campus.
Depois conto mais sobre os outros premiados. Mas a história mais impressionante é a do Ricky, que coordena um programa de reinserção de crianças-soldados-escravos em Uganda (e voce achava que a sua vida era ruim, não?) Ele mesmo foi um ex-soldado-mirim, que fugiu depois de seis anos na trincheira.
Na nossa hora de receber a estatueta, fomos Xavier Plassat, da Comissão Pastoral da Terra, e eu ao palco. Ele convidou para o evento Tom Stang, irmão de Dorothy Stang, missionária assassinada por fazendeiros no Pará em 2004 devido à sua luta pelos direitos dos trabalhadores rurais, e que mora por aqui. Segue o meu discurso:
"Muita gente em todo o mundo tem lucros absurdos com a superexploração do trabalho. Dinheiro é poder. E, muitas vezes, poder precisa de violência para se manter. Muitos fazendeiros ricos se sentem confortáveis para estabelecer sua própria lei e usar trabalho escravo no Brasil. Há corporações internacionais que apóiam essas práticas, sempre pedindo mais por menos, sem se preocupar com as pessoas que serão esmagadas para isso acontecer.
Ao mesmo tempo, a pobreza cria seus escravos. Por isso, o fim da escravidão depende do fim da desigualdade social. O que requer uma redistribuição de renda, de oportunidades, de terras e de justiça, garantindo melhores condições de vida a todos. Quando isso acontecer, os trabalhadores rurais serão realmente livres. Nós dedicamos este prêmio à próxima geração de trabalhadores rurais do mundo. Que eles possam desfrutar da liberdade negada a seus pais."
Meio raivoso. Mas em um mundo em que todos os problemas parecem que podem ser resolvidos com saídas superficiais e cestas básicas, é sempre bom lembrar que o buraco é mais embaixo.
O bispo Desmond Tutu, Nobel da Paz em 1984 e lutador pelo fim do Apartheid na Africa do Sul, foi o barato da noite. O velhinho é uma figura, dança, canta e tem o senso de humor – que tanto nos falta nesses dias sérios demais.
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