Felicidade é... uma cadeira de plástico vagabunda
Washington – O que o Congresso dos Estados Unidos e a casa dos meus pais têm em comum? Bem, é verdade que muitos dos que me lêem nunca estiveram em ambos os lugares – pelo menos, não na casa dos meus pais, eu garanto. Por isso, certamente, o Congresso leva vantagem em número de visitantes. E também há uma leve diferença no orçamento de ambos – meu pai que o diga. Além do fato de um ficar na capital do império, outro não muito distante do centrinho comercial do Campo Limpo, na periferia de São Paulo. Mas perto da casa dos meus pais tinha a venda do Sr. Armando, onde comprei o primeiro chocolate "Surpresa", e o Bazar do Sr. Vitório (que Deus o tenha), onde ia buscar papel de seda – para pipa… – além de vareta e linha 10.
É a segunda vez que bato perna no Congresso daqui para fazer reuniões e entrevistas. Mas é a primeira que percebo que os nobres deputados, que discutem a invasão de outros países ou se vale a pena salvar uma empresa com 85 bilhões de dinheiro público, são fãs, quem diria, das famigeradas cadeiras de plástico. Daquelas presentes em cozinhas, colocadas em volta de churrasqueiras, usadas em humildes templos evangélicos ou por seguranças noturnos que passam a noite sentados com seus inseparáveis pastores-alemães caducos de velhos, apitando de vez em quando para fazer valer o salário. Aquelas que são o terror dos gordos, já que arregam diante de um traseiro mais largo.
Meus pais têm algumas na área de serviço, naquilo que, um dia, já foi o meu quarto e no corredor onde habita a cachorra da casa – uma senhora de 17 anos, cega e surda. Melhor para ela, porque bater a cabeça em cadeira de plástico não dói. Enfim, essas cadeiras são baratas, são simpáticas e fáceis de limpar. A alegria da periferia!
No Congresso do país mais rico do mundo, pelas latinhas que jaziam ao lado das ditas, agrupadas, como se conversassem ainda, mesmo sem seus donos, o local deve ser divertido em algum momento do dia. Percebam que até no final dessa grande sacada há outros grupos de cadeiras, mostrando que não foi um caso isolado, mas algo adotado por mais de um congressista. Talvez até com solidário carinho.
Moral da história: para que um lugar suntuoso, de mármore de cima a baixo, obras de arte e murais, tapeçarias, se, no final das contas, a felicidade reside em uma simples cadeira de plástico vagabunda?
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