A voz de Deus
Rio de Janeiro – Estou participando da 2a Reunião Científica sobre Trabalho Escravo Contemporâneo e Questões Correlatas na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Depois trago para este espaço parte das discussões realizadas nos três dias de encontro, pois o assunto agora é outro. Menos mundano, mais divino.
Levei um grupo de companheiros de luta que estavam no evento para conhecer o Pão de Açúcar. Embarcaram conosco no bondinho entre a Praia Vermelha e a Urca um grupo de simpáticas freiras, todas de branco da cabeça aos pés – e se não fosse os véus certamente veríamos os cabelos brancos das senhoras.
Uma delas, que aparentava uns 70 anos do alto dos seus 1,50 m, era a mais ansiosa antes do bondinho partir para a subida. Câmera na mão, olhava para trás, para frente, comentava com as amigas, agarrada à barra de segurança. Fitava a gente com cara de criança que ia ganhar brinquedo.
Poucos tempo depois, já estávamos chegando ao morro da Urca. Claramente decepcionada, virou-se para nós e com olhar de traquinagem bradou: "Rapidinho demais. Nem deu tempo de gozar!"
Das salesianas com quem dancei e cantei em Timor Leste, aos padres com quem enchi a cara de uísque em Angola, passando pelos dominicanos da Comissão Pastoral da Terra na Amazônia, que vivem a vida mais do que nós, sempre tive a sorte de me deparar com religiosos conectados com o plano terreno e seus vícios – que, para mim, são virtudes. O que mostra que eles entenderam perfeitamente o que os céus querem dizer. Afinal de contas, se Deus não tem senso de humor o que é o ornitorrinco?
O bonde que havia subido rapidamente, veio a baixo. Ouvia-se o comentário ser traduzido para inglês e espanhol e as risadas brotando naquele pedacinho de nações unidas, abençoado pelo bom humor divino.
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