O século 21 de James Bond e Evo Morales
Se você pretende assistir ao filme "007 – Quantum of Solace", não termine de ler este post. Ele conta partes do filme. Um spoiler, por assim dizer.
Um sujeitinho ruim, dono de uma ONG picareta de ecologia, está mancomunado com líderes mundiais, como os dos EUA, para apoiar um golpe militar contra o governo eleito da Bolívia (não falam no nome de Evo Morales, mas dão indícios, ao chamá-lo de líder "marxista"). Com isso, tentam ter acesso facilitado ao petróleo do país, uma vez que a atual administração estaria dificultando o diálogo. Na verdade o sujeitinho ruim quer ficar com a água, o recurso natural mais importante deste século, do nosso vizinho e cobrar horrores pelo seu acesso. O agente criado por Ian Fleming descumpre as ordens do governo britânico, que é um dos mancomunados, e é caçado pela CIA quando tenta vingar-se de quem matou sua namorada no filme anterior. Com isso, acaba impedindo que o sujeitinho ruim tenha sucesso na empreitada. É claro que, no final, o candidato a ditador é morto, o sujeitinho ruim também e o acesso à água para as populações andinas é liberado.
OK, o filme é um blockbuster e como tal tem um objetivo muito bem delimitado: fazer dinheiro. E, em boa medida, alienante, violento, estereotipado e sexista – quem já assistiu a algum 007 sabe do que estou falando.
Contudo os temas do enredo são realistas e atuais – a guerra pela água na Bolívia e as pressões externas por petróleo na América do Sul. Não tenho pretensão de que esse seja o padrão dos próximos filmes do agente. Mas, terminada a Guerra Fria, é interessante que um filme de 007 coloque governos nacionais do Ocidente e grandes corporações como inimigos e indígenas do Altiplano como vítimas. Ainda que seja apenas no campo do faz-de-conta.
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