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Leonardo Sakamoto

Síndrome da Cegueira Sucro-Seletiva

Leonardo Sakamoto

19/11/2008 23h27

Brasília – Um rápido serviço de utilidade pública. Abaixo, os nomes de empregadores que foram flagrados pelo grupo móvel de fiscalização do governo federal com trabalhadores em situação análoga à de escravo neste ano. Entre parênteses, o número de pessoas libertadas. Enquanto você lê este texto, alguma outra deve ter sido incluída na lista, pois as inspeções dessa equipe do governo federal ocorrem em ato contínuo. Mas as 13 a seguir dão um retrato da situação e dos estados em que o problema tem ocorrido.

– Alvorada do Bebedouro S/A – Açúcar e Álcool (33), Guaranésia (MG)
– Central Energética Paraíso S/A (Cepar) (8), São Sebastião do Paraíso (MG)
– Agrovale – Companhia Industrial Vale do Curu (141), Paracuru (CE)
– Nelson Donatel (126), Iguatemi (MS)
– Usinas Itamarati S/A (67), Nova Olímpia (MT)
– Usina Fortaleza Açúcar e Álcool (244), Porteirão (GO)
– Agrisul Agrícola (55), Icém (SP)
– Elcana Goiás Agroenergética (95), Jataí (GO)
– Agro Pecuária Campo Alto S/A (421), Quirinópolis (GO)
– Brenco – Companhia Brasileira de Energia Renovável S.A (17), Campo Alegre (GO)
– Laginha Agro Industrial S.A (52), União dos Palmares (AL)
– Penedo Agroindustrial S.A (203), Penedo (AL)
– Usina Santa Clotilde (401), Rio Largo (AL)

Uma observação: enquanto parte do governo federal atua no combate a esse crime, outra insiste em negá-lo. Isso demonstra que a Esplanada dos Ministérios é vítima da famigerada Síndrome da Cegueira Sucro-Seletiva. Doença cruel, muito cruel, ela ataca qualquer funcionário público que não tenha sido inoculado com um mínimo de bom senso, de conhecimento histórico da exploração do trabalho e ou de capacidade de respeitar os direitos fundamentais. Ou que tenha em seu DNA propensão a defender primeiro o comércio, depois os direitos humanos.

Também acomete representantes de governos estaduais. Atinge, aí, muitas vezes sua forma mais letal.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.