Topo

Leonardo Sakamoto

Deputado faz apologia à morte de funcionários públicos

Leonardo Sakamoto

27/11/2008 18h38

Luís Carlos Heinze (PP-RS) faz parte da bancada ruralista no Congresso Nacional e tem sido um dos mais atuantes na defesa do agronegócio. Em uma audiência na semana passada, fez um discurso inflamado, afirmando que a agropecuária era pressionada pelo sistema financeiro, ambientalistas, pelo Ministério do Trabalho. Se empolgou tanto que soltou esta pérola:

"Aqui em Goiás, até isso acontece, os caras tiveram que matar um fiscal. De tão acuado que tava esse povo. O cara não agüenta mais!" (Ouça o áudio com a declaração.)

Em outras palavras: fazendeiros acuados por terem que cumprir a lei não agüentaram tanta pressão para reduzir a taxa de lucro conseguida de forma criminosa e mataram para continuar na ilegalidade.

Mais direto impossível. Vale lembrar que o deputado externou o que pensam muitos produtores rurais e seus representantes políticos. Muita gente deve ter se sentido aliviada.

O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho afirmou que vai entrar com uma ação contra o deputado, tentando provar quebra de decoro. Sua declaração, além de infeliz, incita o ódio e a violência contra funcionários públicos, ambientalistas e defensores dos direitos humanos – que já vivem com na mira de matadores devido à zona rural que aqui impera. Em outras democracias, isso já seria suficiente para sua cassação. Aqui é capaz dele acabar ganhando um prêmio. Da mesma forma que um outro político ganhou.

Há três posts lembrei da Chacina de Unaí (MG), quando quatro funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego foram mortos durante fiscalização rural. A Polícia Federal apontou Antério Mânica, prefeito de Unaí, como um dos mandantes. Nesta segunda, ele recebeu a Medalha da Ordem do Mérito da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Se quiserem entrar em contato com o deputado, seu e-mail é dep.luiscarlosheinze@camara.gov.br.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.