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Leonardo Sakamoto

Jovem é "alugado" por R$ 700,00 em Santa Catarina

Leonardo Sakamoto

26/01/2009 13h46

Uma mulher teria deixado seu filho de 16 anos para quitar o pagamento de uma dívida e desapareceu, sem deixar qualquer contato com ele.

A história aconteceu em Caçador (SC). De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a mãe, que trabalhava na colheita de tomates de um fazendeiro, havia tomado empréstimo de R$ 700,00. Quis ir embora e deixou o garoto lá para, através do seu serviço, quitar a dívida. Ou seja, ele teria sido "alugado" por menos de dois salários mínimos. O objetivo é que, ao final da colheita, quando os trabalhadores recebessem algo do proprietário, o trabalho dele quitaria a dívida da mãe e ele poderia receber algo.

A situação dele mudou quando o grupo móvel de fiscalização do governo federal, coordenado pelo MTE, libertou 20 trabalhadores que estavam na fazenda de tomate em situação de escravidão neste mês de janeiro – incluindo a família em que o menino foi deixado.

Entrevistado pela Repórter Brasil, o rapaz disse que a dívida era dele, não da mãe. O adolescente também afirmou que não estava recebendo salário e pretendia ir embora em abril ao final da safra.

Contudo, os auditores fiscais do trabalho explicaram que a mãe do menino havia pedido dinheiro do gerente para comprar uma moto. Depois, trocou a moto por uma geladeira e outros objetos domésticos. Após essa troca, quis ir embora, mas tinha uma dívida não-paga. Por isso, deixou o menino trabalhando para pagar. Segundo os auditores, ela preferiu deixar um filho e levar uma geladeira.

Além das condições degradantes em que foram encontrados, os trabalhadores da fazenda também estavam presos através de promessas de pagamentos futuros. Quem quisesse ir embora no meio da safra, não receberia nada. Quem ficava, ganhava um vale para gastar em um mercado pré-estipulado pelo patrão, o que é proibido por lei. Ao todo, devem receber R$ 87 mil em direitos trabalhistas, salários atrasados e dano moral individual.

O proprietário não apareceu de imediato, mas foi encontrado devido à ação do Ministério Público do Trabalho. Ele seria dono de um Box do Ceagesp em São Paulo (quando tiver seu nome, publico aqui).

O menino nunca mais falou com a mãe. Questionado, ele disse apenas que quer ir morar com o pai.

Atualizado às 18h03

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.