É hora de abandonar antigos dogmas ambientais
O título acima é forte, principalmente vindo deste blog. Mas não é o que imaginam.
Uma disputa no Parque Nacional do Jaú, um dos maiores do país, localizado no Estado do Amazonas, está colocando de um lado o Instituto Chico Mendes, ligado ao Ministério do Meio Ambiente, e comunidades quilombolas que moravam ali antes da reserva existir, apoiadas pelo Incra, ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Uma matéria sobre o tema foi publicada hoje pelo jornal Folha de S. Paulo.
A briga entre as duas autarquias do governo federal tem sido freqüente e, em minha opinião, nenhuma delas detém a razão em todos os casos. Neste, em questão, fico com o Incra e as comunidades quilombolas.
Durante um tempo, assumo, tive uma visão simplista de preservação ambiental, muito conservacionista. O que, sem querer me justificar, era compreensível. Um comportamento reativo maniqueísta frente ao rolo-compressor de uma visão de desenvolvimento de terra arrasada. Acreditava que fazia-se necessário a existência de reservas sem presença humana para manter a biodiversidade.
Mas visitando o país e vendo os números, verifiquei que os locais com comunidades tradicionais, como ribeirinhas, quilombolas, indígenas, caiçaras, tem uma taxa de preservação do meio surpreendente. Fazem o papel de guarda ambiental, que deveria ser de responsabilidade do poder público, mas que este, por incompetência, insuficiência ou interesse, se omite. Boa parte das comunidades agem para manter a região, pois dela dependem para seu sustento físico e sua reprodução social e religiosa. Não comungam necessariamente de valores de Fausto do capitalismo, de acumulação e destruição. É claro que há exceções, com populações que queimaram, derrubaram, venderam ou arrendaram suas terras para enriquecerem. Mas as perdas que ocorrem nesses casos não são suficientes para apagar os ganhos com a presença de comunidades. Uma análise deve ser feita em cada caso e não aplicada uma regra genérica.
É possível a existência compartilhada do parque nacional e da população quilombola em questão. Basta saber se estamos preparados para dar um salto nessa direção, deixando de lado antigos dogmas e preconceitos.
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