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Leonardo Sakamoto

Despejo em terra de escravagista atinge 58 crianças

Leonardo Sakamoto

06/04/2009 20h17

Uma ação de reintegração de posse, coordenada pela polícia militar, expulsou 100 famílias do acampamento Alto da Paz, localizado ao lado da fazenda Santo Hilário, em Araguatins (TO). As famílias se encontravam no local há mais de seis anos, produzindo alimentos para seu próprio sustento.  Cerca de 150 pessoas, entre elas 58 crianças, foram levadas para o pátio do Incra.

Ironicamente, o acampamento era o único do Tocantins que não dependia de cestas básica do poder público, pois eram auto-suficientes. A casa de farinha, que garantia o sustento da comunidade, foi destruída na expulsão.

Publico abaixo, trechos de manifesto público assinada pela Comissão Pastoral da Terra, Movimento Estadual de Direitos Humanos do Tocantins, Conselho Indigenista Missionário, entre outros, em protesto contra o ocorrido.

De acordo com a nota, os sem-terra teriam sido intimados a deixar o acampamento, caso contrário, segundo a própria PM, o fazendeiro enviaria seus pistoleiros. No ato de despejo, ocorrido na sexta (03), seis pessoas foram presas, sendo três acampados e três membros de comunidades vizinhas. Testemunhas afirmam que eles apanharam bastante.

No dia 02, três pessoas em um carro realizaram cinco disparos com arma de fogo em direção a um grupo de crianças, mulheres e outros acampados, atingindo um deles. Os atiradores fugiram, contudo, segundo a nota, um dos atiradores foi identificado como agente da polícia civil.

Desde sábado (04), a polícia está efetuando batidas em comunidades do Bico do Papagaio (norte do Tocantins), ameaçando e pressionando os moradores e proibindo às pessoas saírem do local. Estaria à procura de acampados e agentes do movimento social da região, acusando-os de participação em formação de quadrilha.

Em agosto de 2007, a fazenda Santo Hilário foi palco de um conflito entre sem-terras, pistoleiros e policiais militares, que resultou na morte do lavrador José Reis, de 25 anos. As circunstâncias e autoria do crime nunca foram esclarecidas. Exatos três anos antes, o grupo móvel de fiscalização do governo federal libertou seis escravos da Santo Hilário. O nome do proprietário, Lund Antônio Borges, chegou a ser incluído na "lista suja" do trabalho escravo, sendo proibido de obter empréstimos públicos federais.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.