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Leonardo Sakamoto

O Banco do Brasil e a transparência na imprensa

Leonardo Sakamoto

10/04/2009 21h43

Não seria ótimo se nós, jornalistas, avisássemos aos leitores quando estamos reportando ou opinando a respeito de um assunto sobre o qual temos, direta ou indiretamente, algum interesse pessoal? Não estou falando de preocupações universais, como a efetivação dos direitos fundamentais, e sim de temas que podem trazer ganhos ao jornalista no curto prazo. Por exemplo, quando escrevemos uma matéria sobre determinada empresa de capital aberto da qual temos ações.

Sem entrar no mérito da discussão, fiquei imaginando quantos colegas que soltaram artigos – e mesmo reportagens – inflamados contra as mudanças no comando do Banco do Brasil (que resultaram em uma queda no preços das ações e no medo de que uma política menos ortodoxa gere lucros menores) possuem ações do banco. Ter ações pode não influenciar no texto, é claro. E um texto sozinho pode não ter forças para influenciar o futuro econômico da empresa. Mas o leitor tem o direito de saber.

É raro que veículos de comunicação no país, quando publicam um artigo, coloquem no pequeno currículo do articulista após o texto uma explicação se ele tem ou não interesse direto com o desenlace do assunto tratado. Quando fico na dúvida e tenho tempo, entro na net, coloco o nome da pessoa no Google e muitas vezes descubro coisas interessantes e não ditas.

Isso pode ser pequeno, até besta. Mas passar a sensação de transparência ao consumidor da notícia apenas agrega valor à qualidade de imprensa. E afasta dúvidas incômodas.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.