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Leonardo Sakamoto

Cuidado para você não mascar um escravo por aí

Leonardo Sakamoto

27/08/2009 19h00

Em duas ações de fiscalização no Rio Grande do Sul, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério do Trabalho e Emprego e a Polícia Federal libertaram 14 pessoas, entre elas um jovem de 16 anos, em fazendas de pinus no município de São José do Norte. Como bem lembrou Bianca Pyl, aqui da Repórter Brasil, a árvore – que é cultivada em milhares de hectares da região Sul – é usada não só pela indústria da madeira, como a moveleira, mas também para a produção de resina utilizada na composição de produtos como o velho e bom chiclete. E cola, borracha sintética, tintas, vernizes…

O pinus vem sendo figura recorrente em libertações de escravos nos últimos anos, invadindo um território que tem o gado bovino, o carvão e a cana como expoentes.

Na primeira fiscalização, os trabalhadores estavam subordinados a Cleber Vieira Rosa Ltda e Valnei José Queiroz. Na segunda, à Serraria De Bona & Marghetti. Todas usavam "gatos" (contratadores de mão-de-obra) para arregimentar pessoas para o serviço.

Os escravizados dormiam em barracos feitos de restos de madeira e lona. Não havia instalações sanitárias. Descontos irregulares foram verificados: alimentos superfaturados eram adquiridos em estabelecimento comercial indicado pelos aliciadores. Por causa das dívidas, empregados ficavam sem receber. Um deles, estava há um ano e oito meses no serviço.

Os empregadores assinaram Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), propostos pelo Ministério Público. Foram pagos os salários devidos, os direitos trabalhistas e uma indenização por dano moral individual. E o valor obtido por dano moral coletivo foi revertido em material para uma campanha que explicará o que é trabalho degradante em jornais do Rio Grande do Sul.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.