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Leonardo Sakamoto

Já tenho meu candidato para o Senado no Rio

Leonardo Sakamoto

29/11/2009 10h05

Há setores do PMDB carioca que querem lançar o deputado estadual Jorge Picciani para uma vaga no Senado no ano que vem. Disputaria, provavelmente, com nomes como Fernando Gabeira (PV), Marcelo Crivella (PRB) e, talvez Lindberg Farias (PT) – se este fosse convencido a não concorrer contra o governador Sérgio Cabral. Da minha parte, apóio totalmente a proposta e, desde já, me coloco como um entusiasta que Picciani seja lançado ao Senado.

Assim poderemos lembrar durante a campanha eleitoral, um dia sim, no outro também, como ele escravizou trabalhadores em sua fazenda no Mato Grosso.

Sua propriedade, localizada em São Felix do Araguaia, no Mato Grosso, foi alvo de uma operação do grupo móvel de fiscalização do governo federal em junho de 2003, quando 39 trabalhadores foram libertados. De acordo com auditores fiscais, que participaram da operação, os peões estavam submetidos à vigilância armada de "gatos" (contratadores de mão-de-obra que trabalham para os fazendeiros) para evitar fugas e não tinham acesso à alimentação decente. Além disso, as pessoas tinham que utilizar a mesma água para lavar a roupa, tomar banho e matar a sede. Entre os trabalhadores, havia um adolescente de 17 anos.

Além de Jorge, a Agropecuária Vale do Suiá (Agrovás) tem também Leonardo Picciani, seu filho e ex-presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, entre os sócios. A Agrovás chegou a figurar na "lista suja" do trabalho escravo e esteve impedida de receber créditos públicos. Ninguém perdeu o mandato por isso. Continuam ocupando cargos públicos, felizes da vida.

Em último caso, vai ser bom para todos ele ser levado ao Senado. Poderá encontrar outros senadores que incorreram no mesmo crime ou em coisa tão grave quanto e reclamar das injustiças dessa vida. Se sentirá acolhido, em casa. E nós garantiremos que um jeito de viver a vida pública, que poderia estar extinto, possa sobreviver, ficar junto, reproduzir-se.

Sobre o Autor

É jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e violações aos direitos humanos em todos os estados brasileiros. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York (2015-2016), e professor de Jornalismo na ECA-USP (2000-2002). É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e comissário da Liechtenstein Initiative - Comissão Global do Setor Financeiro contra a Escravidão Moderna e o Tráfico de Seres Humanos. É autor de "Pequenos Contos Para Começar o Dia" (2012), "O que Aprendi Sendo Xingado na Internet" (2016), entre outros.