Lugar de índio é no zoológico?
Imagine uma casa de classe média brasileira, com seus utensílios e objetos, exposta em um circo no Japão para mostrar como vive aquela gente diferente do outro lado do mundo. Causaria comoção por aqui, não?
O Zoológico de São Paulo construiu uma oca indígena para abrigar uma exposição educativa sobre cultura, história e tradições dessas populações tradicionais. Segundo o seu site, "a proposta é estimular o respeito e a valorização do índio como um dos pilares culturais e étnicos do Brasil". O projeto pode ter nascido da melhor das intenções, tocado por pessoas que acreditam que só conhecendo o outro é que conseguiremos difundir conceitos como tolerância e respeito. Contudo, a meu ver, o resultado é questionável, indo no sentido oposto e mostrando que o inferno continua povoado de boas intenções.
Afinal de contas, ao que estamos comparando as populações indígenas com esse tipo de exposição? Plantar a casa de alguém dentro de um local de exibição e estudo de fauna apenas reforça preconceitos, principalmente na cabeça de crianças e adolescentes, principal público do parque. Qual a diferença simbólica entre isso e um circo, em que se anuncia a apresentação de leões, macacos, elefantes e índios? Esse tipo de contextualização do tema reafirma determinados estereótipos que deveriam estar sendo combatidos com uma boa discussão sobre direitos sociais e individuais das comunidades tradicionais. Que, apesar de seu modo de vida diferente, não são a mesma coisa que bichinhos e plantinhas. Muitos menos um mundo bizarro a ser exposto em vitrine.
Onde seria travado esse debate? Na sala de aula, na família, na rua, no campo, no noticiário da TV, em uma praça pública. Não existe um local sagrado para isso, pelo contrário, ele deve estar em todo o lugar, assim como o ar que a gente respira, transversal como os direitos humanos.
Em exibição, deveriam estar os políticos e a elite rural que defendem a diminuição dos direitos dessas populações, sendo contrários à demarcação de territórios indígenas. Seria um serviço ímpar de utilidade pública: ver de perto para tentar entender essa espécie que tanto sofrimento causa ao seu semelhante. Seria, contudo, uma grande falta de respeito com os animais que vivem por lá.
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